Se a comparação for feita com o período anterior à pandemia, o número de novos pobres subiu 3,6 milhões
Texto de Vivaldo de Sousa
O número de novos pobres aumentou em 7,2 milhões de pessoas entre 2020 e 2021. Para que não percamos a noção do que isso significa, São Paulo, a maior cidade brasileira, tem uma população estimada de 12,2 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa quantidade de novos pobres é maior do que a população do município do Rio de Janeiro, de 6,7 milhões de pessoas.
Se a comparação for feita com o período anterior à pandemia da Covid-19, o número de novos pobres subiu 3,6 milhões, conforme estudo divulgado no dia 15 de junho pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social). Novamente, apenas para efeito de comparação, esse número é maior do que a população do Distrito Federal, estimada em 3 milhões de pessoas.
No total, a pobreza alcançou 23 milhões de pessoas no ano passado. Apenas o Estado de São Paulo, com mais de 41 milhões de pessoas, tem uma população maior que o número de pobres no Brasil. O levantamento do FGV Social também mostra um aumento dos que estão na extrema pobreza, que são os com renda per capita mensal de até R$ 105. A fatia em relação ao total da população brasileira subiu de 4,2%, em 2020, para 5,9%, em 2021.
Autores do estudo, os economistas Marcelo Neri, diretor do FGV Social, e Marcos Hecksher avaliam que “os brasileiros mais pobres têm de fato vivido uma montanha russa nos últimos anos”. Segundo ele, a renda mensal dos 10% mais pobres, ou primeiro décimo de renda, já vinha em queda antes da chegada da covid-19 ao Brasil e despencou a menos da metade no início do isolamento social (R$ 114 em novembro de 2019 a R$ 52 em março de 2020).
Numa típica montanha russa, essa renda subiu com o pagamento do auxílio-emergencial e voltou a cair quando o pagamento do benefício foi interrompido em março de 2021. Com inflação e desemprego ainda elevados, embora com tendência de queda, as perspectivas não são de mudança, redução da pobreza, no curto prazo. Uma outra pesquisa, divulgada em 8 de junho pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), já havia mostrado que atualmente, mais da metade (58,7%) da população brasileira vive com insegurança alimentar.
Mais do que dados estatísticos, os dois estudos apresentam uma inaceitável realidade presente no nosso cotidiano. Uma realidade na qual milhões de pessoas passam fome diariamente. Mudar essa situação é uma responsabilidade de cada um de nós, seja por meio de trabalho voluntário ou de doações. Mas sobretudo a partir das escolhas dos governantes, do prefeito ao presidente da República, e dos representantes no Legislativo (Senado, Câmaras do Deputados e Assembleias Estaduais). Faltam cerca de 100 dias para 2 de outubro.