Para ninguém perder o negócio, o Congresso virou palco das coisas mais absurdas
Por Gilmar Corrêa – DF
Há algum tempo pensava em abordar o tema que sugere o título acima. Acompanhar o dia a dia parlamentar é exercitar a paciência e desafiar o bom senso. Para não dizer coisa pior.
Estamos num nível desagradável da política. Em 2018, o movimento bolsonarista se consolidava com críticas ao sistema. Quatro anos depois, o pós-bolsonarismo é o resultado da enganação. Tudo que foi dito – da tal velha política – foi assimilado e piorado.
Mentiras se tornaram mantra de uma administração contaminada pelo faz-de-conta. Pelo ataque, pela avacalhação. A desconstrução é uma nuvem negra que não permite nem mesmo que projetos positivos consigam sobrepor à desorganização.
A pandemia dessa loucura contaminou os demais Poderes. No Legislativo, personagens embalados pela onda negra das eleições de 2018, vilipendiariam a moral e os costumes. Em nome de Deus, da família, empunharam a espada da guerra.
A onda foi avassaladora na Câmara e no Senado. Para ninguém perder o negócio, o Congresso virou palco das coisas mais absurdas. A moda, agora, é alterar a Constituição.
A Proposta de Emenda Parlamentar (PEC) é a matéria do balcão. O presidente da Câmara e do Senado embalam esse instrumento que deveria ser utilizado em situações especiais e excepcionais. A PEC, no entanto, se transformou num decreto.
Todos os dias são apresentadas propostas que descaracterizam o espírito da Constituição promulgada em 1988.
A rasteira é tão grande que os militares entraram no embalo e se transformaram em porta-vozes das ameaças. A caserna tomou o veneno da indisciplina.
Em nome da governabilidade, articulações absurdas são capitaneadas por expoentes da República carcomida pelos negócios. As emendas parlamentares se tornaram moeda de troca.
Hoje não se discute mais os grandes projetos nacionais. Não se apresentam programas estruturantes. Não se debate a educação de forma precisa e necessária. Investimento ou desenvolvimento são palavras mortas – lembradas por puro proselitismo. Tudo virou política pequena, mesquinha, inoportuna e aviltante.
Aqui, só se pensa em voto. Em ganhar as eleições, na reeleição, nas emendas e nos negócios. Que se exploda a população e o país.