Diversos países estão com uma agenda para acabar com a produção de carros movidos com derivados de petróleo
Por Chales Machado – SC
Em sete anos segundo uma projeção da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a frota de carros elétricos em circulação deve ser próxima de 175 milhões, bem diferente dos atuais 16 milhões que circulam nesse momento.
Essa alteração na composição da frota de veículos em nossas cidades em um prazo tão curto deve exigir inúmeros ajustes de engenharia e de Direito também, como a regulação dos pontos de recarga e o incentivo para instalação de novas fontes de geração, como fotovoltaica e eólica, no teto dos nossos edifícios, assim como da ampliação da cobertura dos nossos estacionamentos com painéis solares, mudando por completo a paisagem urbana.
Considerando a elevação do consumo de energia, seja por uma nova frota, ou pela transformação digital que amplia diariamente o uso de novos equipamentos movidos a energia elétrica, acabamos por aprofundar também questões que ganham uma ampla dimensão, como a segurança energética, algo evidenciado diante do conflito Rússia e Ucrânia.
Diversos países já estão determinando uma agenda para o fim da produção de carros movidos a combustíveis derivados do petróleo, logo nossas ruas serão sim invadidas por pontos de recarga ao mesmo tempo que a qualidade do ar de grandes metrópoles deve melhorar, isso é claro imaginando que na maioria dos países a matriz energética que deve mover esses veículos seja a energia elétrica produzida por fontes renováveis.
Se a segurança energética adquire um novo status, ganhando importância estratégica, os países se movem regulando inclusive a participação em negócios de energia.
Recentemente, o governo canadense, ordenou que três grupos chineses liquidem suas participações em empresas canadenses de minerais críticos, depois que uma revisão de defesa e inteligência concluiu que os investimentos representavam uma ameaça à segurança nacional.
Canadá e China na questão do lítio
O governo ordenou que a Sinomine Rare Metals Resources, de Hong Kong, desista de sua participação na mineradora canadense de lítio Power Metals, um movimento que reflete um endurecimento significativo da postura do Canadá em relação à China.
O Governo também intimou a Chengze Lithium International a desfazer sua participação na Lithium Chile e zangge Mining Investment (Chengdu) para liquidar seu investimento na Ultra Lithium, outra desenvolvedora canadense de recursos, esse alinhamento na defesa do lítio matéria prima das baterias, pode dar a dimensão estratégica da regulação e proteção desses metais.
Os minerais críticos, são fundamentais para transformação digital, no entendimento que baterias representam autonomia, e logo são estratégicos para transformação das frotas.
Essa política regulatória deve ser seguida por muitos países, o que parece ser apenas o início, na mudança de uma mudança na política jurídica de segurança nacional, saindo dos riscos tradicionais de segurança nacional para os riscos críticos da cadeia de suprimentos, dado a importância que os minerais críticos, são fundamentais para o impulsionamento da economia digital verde.
Se no primeiro momento essa medida não impacta a importação desse insumo para China, maior produtora de baterias para automóveis elétricos e híbridos do mundo, devido a pequena participação do Canadá nessa cadeia produtiva, no médio e longo prazo esse exemplo do governo de Ottawa pode ser uma referência para diversos outros países bem mais estratégicos, como a Austrália.
Os EUA, com a mesma preocupação, tentam também reduzir a dependência da China para o refinamento de minerais críticos, que são vitais para fazer de tudo, desde armas como mísseis até produtos ecológicos, incluindo veículos elétricos.
Frota de ônibus também deve ser substituída
Durante anos, as empresas chinesas estão entre os compradores mais movimentados dos minerais que sustentam a transição para tecnologias limpas. Embora apenas 13% da extração global de lítio seja produzida na China, atrás da Austrália e do Chile, suas refinarias processam mais da metade do suprimento mundial.
É evidente que nesse momento os preços dos carros elétricos ainda são elevados, porém a redução dos mesmos nos próximos cinco anos é algo irreversível, bem como os movimentos regulatórios na direção da eletrificação da frota, como o feito na semana passada pela Prefeitura de São Paulo.
A prefeitura anunciou que em dois anos cerca de 20% da frota de ônibus urbanos terá de ser a energia elétrica, movimento que deve ser seguido por muitas cidades brasileiras, e esses movimentos ordenados levam a necessidade de serem criadas regras que coloquem a segurança energética como requisito, para se evitar assim uma dependência da China.
Estamos acompanhando os movimentos regulatórios feito pelas cidades, assim como os anúncios de fabricantes, com novas linhas de montagens de carros elétricos no Brasil, como o feito pela chinesa, BYD, que deve produzir nas antigas instalações da Ford, em Camaçari (BA), desativada em 2021.
Protocolos para fabricação de carros elétricos no Brasil
Esse primeiro protocolo de intenções com o governo da Bahia, prevê a fabricação de carros, caminhões e ônibus eletrificados, com valores iniciais de investimento de cerca de R$ 3 bilhões, e geração de 1,2 mil empregos e três unidades industriais, o que segue os anúncios anteriores feitos pelo grupo Caoa Chery que já produz modelos híbridos em Anápolis (GO) e prepara sua fábrica em Jacareí para produtos elétricos.
O mesmo ocorre com a Great Wall Motors (GWM), que adquiriu a fábrica da Mercedes-benz em Iracemápolis (SP) e deve iniciar a produção em 2023, em comum nesses anúncios? Todas são montadoras chinesas o que é um forte indicativo de que em um futuro breve o seu carro elétrico será chinês.
A China, antes considerada um mercado de carros elétricos focados no mercado interno muda seu desenho com as exportações crescentes e a política governamental tem desempenhado um papel importante, pois Pequim exige que uma cota fixa de veículos elétricos seja fabricada a cada ano.
Grande parte do crescimento das vendas deve-se aos preços baixos. Por exemplo, o Hongguang Mini, o modelo elétrico mais vendido do mundo no ano passado, foi precificado em 28.800 yuan (4.200 euros), antes da alta de preços deste ano. A BYD tem um catálogo mais amplo, incluindo um modelo de autonomia estendido de 34.000 dólares (33.200 euros).
Esses carros elétricos baratos geram pouco lucro. A SAIC-GM-Wuling, fabricante do Hongguang Mini, teve margens de lucro muito baixas no ano passado. As margens operacionais da BYD caíram abaixo de 2% no ano passado. No caso da Tesla, no mesmo período foram 12%, ou seja o foco tá na escala para gerar volume e assim desenvolver tecnologia própria.
A China domina cada vez mais a cadeia de fornecimento de baterias de lítio, como apoio ao crescimento das vendas para suas montadoras de carros elétricos, protagonismo que deixa muitos preocupados.