O povo brasileiro na frente dos quartéis, que a verdade seja dita, tem incomodado, e muito
Por Maya Félix – MA
O Brasil já teve muitos momentos de insurgência popular. Desde o século XVI ao XXI, quando a corda foi esticada além do sustentável, o povo espontaneamente foi para as ruas. É assim: quando a Justiça de nada funciona, quando não se tem mais a quem recorrer, quando a única opção é a perda da liberdade e a ameaça à vida se torna não mais uma possibilidade, mas uma realidade, então tudo acontece.
Levante dos Tupinambás, Revolta da Cachaça, Insurreição Pernambucana, Revolta de Amador Bueno, Revolução de Beckman, Confederação dos Cariris, Guerra da Independência do Brasil, Noite das Garrafadas, Revolução Farroupilha, Balaiada, Cabanada, Revolta da Chibata são alguns entre tantos movimentos em que o povo, farto, resolveu agir por si próprio.
O povo brasileiro na frente dos quartéis, que a verdade seja dita, tem incomodado, e muito. Tem chamado a atenção internacional. Tem evidenciado que estamos num regime de exceção.
Tem destruído a imagem de justiceiros dos ministros do STF. Tem escancarado que o povo, na verdade, não aceita que um homem acusado, processado e julgado culpado seja presidente da República. Não aceita fraude nas urnas. Não aceita que nosso país seja entregue nas mãos da quadrilha.
Essa gente – aposentados, trabalhadores, empresários, homens, mulheres, jovens, não aceitam que tudo termine desta forma. Essa gente tem paciência. Não à toa já tentaram de tudo para que as manifestações diminuíssem. Polícia, Conselho Tutelar, PRF contra os caminhoneiros, multas exorbitantes, cerceamento de expressão, Polícia Federal batendo às seis da manhã na casa de gente que cometeu o crime terrível de não aceitar o teatro de “as urnas são seguras”.
Autoridades, mídia certificada e influencers garantem que isso não é nada. Que vai passar. Que o Brasil está muito bem, obrigada, estável, democrático, tranquilo em seu berço esplêndido. Parece aquele pessoal que garantiu que nem Deus faria o Titanic naufragar.
Pior ainda foi a tentativa de mostrar força. Sim, porque a foto do presidente do TSE com comandantes das polícias militares foi uma tentativa de demonstração de força: o ministro convocou reunião com todos os chefes das PMs.
De início, três já não foram. Muitos estavam ali coagidos ou curiosos, porque Alexandre de Moraes não tem poder sobre a PM. Ou pelo menos não de forma legal. As PMs estão subordinadas aos governadores e são “força auxiliar do Exército brasileiro”, não do STF ou do TSE.
E já tentaram de tudo para acabar com esse “incômodo”: apelos à “unidade nacional”, “mais amor”, choro sentido sem lágrimas. Disseram que esses manés (Perdeu, mané!) não durariam uma semana na frente dos quarteis. Estamos nas ruas há 26 dias. Disseram que na hora da chuva, todos iriam embora. Que quando a Copa começasse, aí sim. Mas chega gente nova todo dia.
O que mete medo nos nossos ditadores não são as Forças Armadas. As Forças Armadas devem ser provocadas para agir. Os brasileiros na frente dos quartéis, dia e noite, estão incomodando não apenas o STF e o TSE: os deputados já começaram a se mexer.
A viagem dos ministros do STF aos EUA foi um escárnio, mas pelo menos vimos que brasileiros se manifestaram claramente contra medidas de exceção, inobservância das leis, associação criminosa e outros.
Não são as FFAA, nem será o presidente, nem os deputados, os senadores, ninguém. Somente o povo pode mudar seu destino. Não há muita novidade: todas – vejam bem, todas – as vezes em que houve alguma mudança significativa em governos e sistemas, isso aconteceu porque o povo estava pressionando, estava nas ruas, estava unido. Por isso, não ouçam os pessimistas.