Durante a Segunda Guerra Mundial, em especial, o que se viu foi uma mistura de amor eventual com ódio

Por André César

Falarei sobre sobre as biografias lançadas recentemente de duas lideranças que ajudaram a moldar o século XX e, indo além, o mundo em que vivemos. Falo aqui do britânico Winston Churchill e do francês Charles de Gaulle. Figuras contemporâneas que viveram e protagonizaram grandes momentos da História (sim, com H maiúsculo) e que hoje fazem falta no cenário global.

É evidente que já foram publicadas milhares de obras sobre os dois líderes, mas os livros que trago aqui apresentam dados e documentos até então inéditos, configurando assim trabalhos de fôlego que renovam o interesse nessas personagens. Leitura recomendada a todos.

Importante ressaltar que as relações entre os dois sempre foram conflituosas. Durante a Segunda Guerra Mundial, em especial, o que se viu foi uma mistura de amor eventual com ódio – ou no mínimo certo estranhamento. Ao final, porém, o britânico e o francês foram fundamentais para a derrota do nazi-fascismo.

Aos livros. A biografia de Churchill, “Caminhando com o destino”, de Andrew Roberts (Editora Companhia das Letras), vai do nascimento ao legado do icônico primeiro-ministro britânico. O autor aborda a personalidade forte, a capacidade absurda de trabalhar e os diversos “dons” da eclética figura – escritor prolífico, nadador, esgrimista, apaixonado por borboletas, pintor, entre outros. O homem não parava.

Misto de plebeu e nobre (a mãe era uma espécie de socialite norte-americana, o pai da nobreza britânica), Churchill viu e viveu os momentos decisivos do século XX – as duas guerras, a ascensão do fascismo, do nazismo e do comunismo, a Guerra Fria. Goste-se ou não dele, há muito o que se aprender com sua biografia.

Já o francês Charles de Gaulle tinha personalidade distinta. No livro “Charles de Gaulle – uma biografia”, de Julian Jackson (Editora Zahar), ele nos é apresentado como um militar oriundo de uma família de católicos conservadores. Fez carreira no exército, onde subiu degrau a degrau – lutou como soldado na Primeira Guerra (e foi preso algumas vezes pelas forças alemãs) e, na Segunda, foi um dos rostos da Resistência Francesa. A partir da vitória sobre Hitler, assumiu a condição de maior liderança política de seu país. Nem mesmo questões de maior polêmica, como a questão argelina e o Maio de 68, apagaram o brilho de sua vida.

Interessante notar que seu nome está em toda a França. Nada menos que 3600 localidades tem um espaço público – rua, avenida, praça – batizada em homenagem a de Gaulle. A título de comparação, Pasteur, o segundo na lista, tem 3000 localidades com seu nome. O gaullismo vive até hoje.

Enfim, em tempos de vácuo de grandes lideranças globais, em pleno pós-pandemia é uma guerra no coração da Europa, o entendimento da vida e obra de Churchill e de Gaulle é no mínimo fundamental.