O nebuloso caso deverá ser investigado pela Polícia Federal, segundo o ministro da Justiça
Por Misto Brasília – DF
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu declarações à CNN Brasil e, talvez de uma forma como jamais tenha feito, subestimou a inteligência dos brasileiros com um jogo de palavras infantil para negar o grave crime a ele imputado. Na resposta misturou o assunto com fatos sem qualquer ligação com a denúncia, registrou a Carta Capital.
“Estou sendo acusado de um presente que eu não pedi, nem recebi. Não existe qualquer ilegalidade da minha parte. Nunca pratiquei ilegalidade. Veja o meu cartão corporativo pessoal. Nunca saquei, nem paguei nenhum centavo nesse cartão”, disse o ex-presidente.
A ex-primeira-dama Michelle negou ser dona das joias. “Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein? Estou rindo da falta e cabimento dessa imprensa vexatória”, publicou Michelle no Instagram.
Governo Bolsonaro usou a cúpula da Receita Federal para pressionar a delegacia do órgão em Guarulhos a reaver joias de R$ 16,5 milhões que seriam presente para a então primeira-dama.
No Twitter, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o “fiscal da Receita que impediu esse crime tem que ser profundamente reconhecido”.
O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), disse que pedirá à Polícia Federal para apurar o caso.
Os itens teriam sido encontrados por agentes da Receita Federal em outubro de 2021 na mochila do militar Marcos André dos Santos Soeiro, então assessor do ex-ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, em seu retorno ao país.
Bento Albuquerque teve uma agenda de eventos oficiais na Arábia Saudita naquele mês e representou o governo durante quatro dias de reuniões bilaterais, conferências e reuniões, como consta na sua agenda pública.
Ele negou qualquer irregularidade e disse que as joias foram “devidamente incorporadas ao acervo oficial brasileiro”. Durante a viagem à Arábia Saudita, Bento Albuquerque se encontrou com com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro do país, segundo informou o Globo.
Na volta ao Brasil, seu assessor teria trazido as joias em uma mochila, além de um certificado de autenticidade da marca Chopard.
Em uma checagem de rotina no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, agentes da Receita teriam constatado que os itens não haviam sido declarados e os teriam apreendido.
Na sexta-feira, o ex-ministro confirmou ao Estadão que trouxe as joias, mas alegou não saber que se tratavam de peças valiosas, porque o pacote estaria fechado.
“Nenhum de nós sabia o que eram aquelas caixas”, disse ao jornal.
Ao jornal Folha de São Paulo, o ex-ministro enfatizou que sua equipe não teria tentado trazer ilegalmente do exterior presentes destinados a Bolsonaro e Michelle.
Bento Albuquerque afirmou ao Globo que, por causa do alto valor das peças, elas “foram devidamente incorporadas ao acervo oficial brasileiro” e acrescentou que isso teria sido informado ao príncipe saudita em uma carta.
Fabio Wajngarten, que chefiou a Secom no governo Bolsonaro, divulgou no Twitter documentos nos quais o governo teria solicitado a devolução dos itens para sua avaliação e possível incorporação “ao acervo privado do Presidente da República ou ao acervo público da Presidência da República”.
Wajngarten publicou também um documento em inglês, no qual Bento Albuquerque comunicaria ao governo saudita que os itens seriam “incorporados ao acervo oficial brasileiro”.