Nos últimos anos, o fenômeno La Niña vem transformando o Uruguai, e sobretudo Montevidéu, num deserto
Por Oliver Pieper – Uruguai
Na capital do Uruguai, o primeiro país do mundo a consagrar o direito à água potável em sua Constituição, em 2004, esse bem precioso está se tornando escasso.
Nos últimos anos, o fenômeno La Niña vem transformando o Uruguai, e sobretudo Montevidéu, cada vez mais num deserto, e a cidade vive agora sua pior seca em mais de sete décadas.
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, decretou emergência hídrica na Região Metropolitana de Montevidéu.
A medida prevê isenção de impostos para água mineral engarrafada e que a população mais pobre, particularmente afetada pela crise, receba dois litros por dia gratuitamente.
A crise hídrica se transformou numa crise política no Uruguai, com uma série de protestos contra o governo nas ruas.
“Não é uma seca, é um saque”, protesta a organização ambiental Redes – Amigos de la Tierra. A ONG aponta que fábricas de celulose, empresas de cultivo de arroz e produtores de soja usam enormes quantidades de água sem tem que pagar nada por isso.
“A seca pela qual o Uruguai está passando é totalmente excepcional. Tivemos dois anos de seca relativamente normal, ou seja, com índices de precipitação baixos, mas dentro do que normalmente ocorre em situações do tipo. Mas desde o fim do ano passado, vivemos algo realmente excepcional”, diz a bióloga e pesquisadora uruguaia Mariana Meerhoff. “Nunca tivemos tão pouca chuva.”
Segundo Meerhoff, a situação em Montevidéu é particularmente dramática pelo fato de a demanda por água ser tão alta. A região metropolitana da capital abriga mais da metade dos 3,4 milhões de habitantes do país.
Principal fonte de abastecimento da capital, o reservatório de Paso Severino, localizado a cerca de 70 quilômetros da cidade e com capacidade para 67 milhões de metros cúbicos de água, está apenas 1,8% cheio, anunciou o governo no início desta semana.
(Oliver Pieper trabalha na DW)