Freud e o nosso amor às redes sociais

Sigmund Freud pai da psicanálise Misto Brasília
Sigmund Freu é considerado o pai da psicanálise/Arquivo/Blog Saúde

As redes viraram plataforma de comunicação que constroem de um dia para outros novos “mitos”

Por Charles Machado – SC

E se as redes sociais fossem proibidas, como viveríamos sem elas? Se um grupo de hackers habilidosos derrubassem as redes sociais do mundo, como ficariam as nossas rotinas? É claro que existe vida antes e fora das redes sociais, ainda que muitos, e não apenas os mais jovens possam duvidar disso.

Afinal o que poderia explicar esse efeito que elas possuem transformando bilhões de pessoas em verdadeiros zumbis, claro o leitor desse artigo não, afinal ele é uma pessoa crítica e reflete sobre os efeitos da tecnologia nas nossas rotinas, mas e todos os demais que iniciam suas rotinas abrindo o celular e vendo suas redes sociais?

Em 1921, exatos 102 anos atrás Freud, na época assustado com o crescimento da propaganda nacionalista (partidos nazifascistas) se debruçou sobre a compreensão das massas, e o efeito da comunicação e de falsos líderes sobre a mente das pessoas, algo bem parecido com o que vemos diariamente em nossas redes sociais, afinal mentes privilegiadas pensam e escrevem quase sempre sobre o futuro observando o passado e o presente, não à toa Leonardo Da Vinci, projetou a mais de 500 anos, os autômatos(o embrião de robôs).

Freud, em sua obra chamada “Psicologia das massas e análise do eu”, explica como se dá o poder que provém das grandes massas na sociedade.

Afinal o que leva as pessoas a fazerem parte de uma rede social, ou até de diversas ao mesmo tempo?

Com o tempo a segmentação passou a ser o ingrediente maior na estratégia delas para se ajustarem aos diversos gostos, hábitos e faixas de idade, em redes e grupos cada vez mais segmentados, e com comportamento semelhante, na edificação de nítidas bolhas, onde muitos acreditam que o seu universo é o de todos.

As pessoas se comportam como torcedores fanáticos

As redes viraram plataforma de comunicação que constroem de um dia para outros novos “mitos” com discurso que unem semelhantes em causas antigas de velhas bandeiras, desatualizadas do contexto mundial, onde muitos se agarram como salvação de suas vidas e do seu país, fazendo que de uma hora pra outra questões que nunca haviam sido vistas como um problema real, ganhem o peso de salvação da lavoura (qualquer coincidência com a caça aos comunistas ou minha bandeira é verde amarela não é mera semelhança).

Para Freud, algo que cabe feito uma luva nesse momento, onde as pessoas (eleitores ou não) por vezes se comportam feito torcedores fanáticos, ou como fiéis radicais que em instante algum param para refletir sobre os seus líderes:

“A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável.

Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.

Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala.” Para isso veja quantas fantasmas são ressurgem.

E assim “Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade. Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que para ela é uma espécie de fraqueza. O que exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores.

No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.” Não é de graça que escolhe exemplos calhordas de seres preconceituosos que vivem as barrotas com frases fortes para denotar sua “masculinidade”.

Logo novos líderes, quase sempre falsos profetas, unem multidões, catalisadas pelas redes sociais que criam bolhas herméticas em que a reflexão não existe, e abre-se espaço para todo e qualquer devaneio.

Para ele “As massas pensam em imagens e de forma muito simplória, sem averiguar as informações, sem consultar as fontes mais confiáveis etc”.

Todo esse movimento amplifica os delírios desses “mitos’, pois com a ditadura da exposição das redes, a verdade perde importância, e todos compartilham para manter-se em evidência nesse sentimento de pertencimento a algum grupo, substituindo velhos ditados, e sábios ditados como “penso logo existo”, por versões canhestras para os adoradores de falsas notícia, onde o que hoje funciona é o: “compartilho logo existo”.

E assim nossas redes sociais nos remetem as velhas novelas, lembrando os inúmeros modismos que em maior ou menor grau as pessoas passaram em sua adolescência, que vai da linguagem comunicacional, quando repetem bordões de novelas e agora de séries até o jeito do cabelo ou de se vestir.

A história da humanidade é repleta desses exemplos que onde afinal o homem procura ao longo da vida estabelecer relações sociais com os inúmeros grupos, seja na escola, no trabalho, no clube ou na sua rua, ele é sempre movido pelo sentimento de pertencimento.

Algoritmos que procuram ampliar seu tempo na rede

Lutamos para fazer parte de grupos e nos sujeitamos as regras desses grupos, a vida em sociedade é um exemplo disso por isso precisamos de normas jurídicas, para regrar essas inúmeras relações, afinal como os valores culturais e interpretativos são dotados de um conjunto ideológico experimental significativo, precisamos o tempo todo de ajustes, que caminham com o evoluir das relações econômicas e sociais, e logo o Direito vive em constante e nem sempre atual movimento.

As redes sociais estabelecem uma relação de consumo, onde os aplicativos nos fornecem ferramental para divulgarmos nosso conteúdo e interagirmos e recebermos conteúdo de outros, em troca recebem nossos dados e o nosso tempo.

Tempo e dados essa é a moeda do negócio, claro que para ter mais dados eles precisam de mais tempo seu, assim registram algoritmos que procuram ampliar seu tempo na rede por isso em sua time line, as redes sociais dão preferência aos vídeos, e as publicações de amigos que costumeiramente você curte, logo quanto mais curtidas mais informações sobre o que você gosta e o que tem em comum com a sua rede de amigos.

Se não encontramos essas pessoas, mudamos de rede social, vamos para aquelas onde raramente ocorre uma discussão como o Instagran onde a preponderância de fotos lindas e maravilhosas dão muito mais curtidas, alimentando o nosso sentimento de pertencimento.

E assim de mão dadas pertencimento e intransigência digital são o fermento para relações líquidas, explosivas e em boa parte das vezes rasas. Como bem lembra Bauman,

“Seria insensato culpar os recursos eletrônicos […] pelo estado das coisas. É justamente o contrário: é porque somos incessantemente forçados a torcer e moldar as nossas identidades, sem ser permitido que nos fixemos a uma delas, mesmo querendo, que instrumentos eletrônicos para fazer exatamente isso nos são acessíveis e tendem a ser entusiasticamente adotados por milhões” (2005, p. 96).

São tempos onde os extremos das opiniões e notícias assumem o protagonismo da verdade.

O que Freud também falava: “A maldade é a vingança do homem contra a sociedade pelas restrições que ela impõe. […] É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura” Só Freud pra explicar as Redes Sociais.

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