Esse quadro inevitavelmente afeta a saúde mental coletiva. Não por acaso, crises de ansiedade e depressão são uma realidade
Por André César – SP
Crise climática. Conflito entre o Hamas e Israel. Redes sociais manipulando e a Inteligência Artificial (IA) assombrando. Guerra na Ucrânia. Crise migratória. Escalada das tensões entre Estados Unidos e China. Precarização do trabalho.
Violência extrema em locais como o interior do bucólico Maine e o Rio de Janeiro. Fome em diversos países. Temor da retomada de uma crise nuclear. Em pleno século XXI, o mundo vive um período de turbulência sem precedentes. Tempos de pouca esperança.
Muitos acreditavam que, passada a pandemia, o planeta ingressaria em uma espécie de “ciclo virtuoso”, de mais compaixão e empatia entre todos. Até mesmo esse humilde escriba tratou disso em artigo nesse espaço. Ledo engano. O que se vê é justamente o contrário. O “novo normal” é quase uma distopia.
Esse quadro inevitavelmente afeta a saúde mental coletiva. Não por acaso, crises de ansiedade e depressão são uma realidade enfrentada cotidianamente por milhões e milhões de pessoas ao redor do globo.
O consumo de drogas (lícitas ou não) cresce exponencialmente. A questão da explosão dos opioides entre os norte-americanos exemplifica isso. Uma situação muito triste.
Assim, figuras como Trump, Bolsonaro, Orbán, Milei ou Duterte, entre outros, encontram terreno fértil para explorar os desvalidos com seus discursos e ações. A ascensão da ultradireita é uma consequência quase natural do momento atual e uma ameaça real e imediata à democracia – basta relembrar o 6 de janeiro de 2021 em Washington ou nosso 8 de janeiro (o “Capitólio tupiniquim”). O responsável pela conjuntura e pelas dificuldades é o “outro” – seja ele interno ou alguma força externa. A história deveria ter ensinado que isso nunca acaba bem.
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) tornou-se o retrato acabado de toda essa realidade. Nos últimos dias estamos assistindo a embates entre os países (em especial as grandes potências) que beiram o pugilato. Discursos pobres e inflamados, que lembram o famoso “te pego na saída” ginasial.
O fato inegável é que a instituição, criada no imediato pós-guerra, precisa urgentemente passar por uma reestruturação, do contrário será fechada. Cheiro de mofo no ar.
Enfim, o quadro é de desalento global. Em sua obra, o historiador britânico Eric Hobsbawn dividiu em eras a evolução da humanidade a partir do século XVIII – das Revoluções, do Capital, dos Impérios e dos Extremos (essa última encerrada com a queda do Muro de Berlim e a desintegração da União Soviética).
Fosse vivo, ele talvez definisse os dias que correm como a Era do Desespero. Tempos sombrios em um mundo repleto de perigos.