Eletrificação da frota e a geração distribuída

Subestação de energia elétrica Ceilândia Sul DF Misto Brasília
Subestação de energia elétrica em Ceilândia Sul/Arquivo/Divulgação/Neoenergia

Criou-se um potencial mercado de micro e pequenos geradores de energia. Os céticos, torciam o nariz para os carros elétricos

Por Chales Machado – SC

A eletrificação dos nossos veículos impõe diversos desafios regulatórios, embarcados nas inúmeras oportunidades do repensar desse modal logístico.

Alguns desses desafios são permanentes pois evoluem conforme os modelos regulatórios avançam, a extrafiscalidade que desenha incentivos fiscais, fundamental para novas tecnologias, também pode definir o papel de toda uma cadeia de indústria como protagonista da transformação.

Como toda nova mudança, sempre tem um espaço enorme para os céticos e, gigante, para os ignorantes. Enraivecidos por não encontrar o seu espaço no novo, torcem o nariz e procuram ver nos problemas e obstáculos o maior dos seus aliados.

Com a publicação da Resolução Normativa da Aneel 482/12, permitindo que o consumidor brasileiro possa gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou cogeração qualificada, podendo inclusive fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade.

Criou-se um potencial mercado de micro e pequenos geradores de energia. Logo, imagine esse segmento com a adoção dos veículos eletrificados, onde milhões de veículos no curto e médio prazo poderão ser abastecidos nas nossas garagens?

Tente imaginar empresas com centrais de geração fotovoltaica e ou eólica em seus pátios abastecendo as suas frotas? São inovações que aliam economia financeira, consciência socioambiental e autossustentabilidade.

A geração distribuída, além de reduzir o custo de abastecimento para milhões de pessoas, vai criar um redesenho completo em toda cadeia de logistica no mercado de combustível, que deve ficar muito diferente. Logo, os milhares de caminhões transportando combustível em nossas estradas devem ter seu volume reduzido.

Os oleodutos, que transportam combustível, devem ter sua vazão reduzida.

E o Direito Urbanístico vai caminhar para regulamentação que torne obrigatória postos de reabastecimento desses veículos elétricos, sejam eles caminhões, motos, ou bicicletas, além é claro das frotas de carga comercial em toda moradia multifamiliar e comercial coletiva.

Outros benefícios são também identificados, como o adiamento de investimentos em expansão dos sistemas de transmissão e distribuição, o baixo impacto ambiental, a redução no carregamento das redes, com a minimização das perdas e a diversificação da matriz energética.

Com o objetivo de reduzir os custos e tempo para a conexão da microgeração e minigeração – bem como compatibilizar o Sistema de Compensação de Energia Elétrica com as condições gerais de fornecimento de energia -, foi publicada a Resolução Normativa nº 1.000/2021 e a Resolução Normativa nº 687/2015. A Aneel que revisou a Resolução Normativa nº 482/2012, ampliando essa oportunidade que deve vir acompanhada de alterações em leis municipais.

O futuro já é o presente

Os céticos, torciam o nariz para os carros elétricos, criticando a sua autonomia, como ponto frágil e seu elevado custo. Sabidamente todos são problemas contornáveis no médio prazo, seja pela escala ou por pequenas mudanças de hábito.

Pergunte para uma pessoa, que circula diariamente cerca de 40 quilômetros, se ela não prefere abastecer seu carro em casa com energia gerada por ela mesma, ao invés de ir para os tradicionais postos de combustíveis?

A escala é nesse caso, a senhora das soluções e das oportunidades.

Se as células têm hoje autonomia de mais de 460 quilômetros – isso nos carros elétricos de entrada -, e podem ser reabastecidas em até 80% com uma breve parada para um lanche na estrada de 30 minutos, todo argumento será apenas com o propósito de atrasar essa transformação.

Ela vai ocorrer mesmo com a oposição de muitos dinossauros da distribuição de combustível. O petróleo certamente continuará sendo usado mas a cada dia menos para combustível e mais para indústria química, bem mais rentável.

A preocupação com o meio ambiente vai na alteração da matriz energética, e segue também quando a fabricante anuncia o lançamento dos primeiros modelos BMW e Mini com interiores totalmente veganos e sem couro em 2023.

Além de, em 2025, começar a fabricar peças com plástico reciclado a partir de redes de pesca, material que responderá por 30% do total.

Suas novas baterias, que são mais baratas, reduzem as emissões de CO2 na produção celular em até 60%, vão ainda melhorar a velocidade de carregamento em 30%, o que vai permitir uma autonomia de mais de 1.000 quilômetros.

A química das células é do tipo NCM (níquel, cobalto, manganês) e o cátodo tem uma porcentagem maior de níquel e menos quantidade de cobalto, enquanto o ânodo é rico em silício.

Além disso, para melhorar o uso do espaço, as embalagens carecem de módulos, uma revolução que acompanha toda a indústria. Não é a toa que a Vale, a maior mineradora do mundo, pretende segregar os seus ativos de mineração destinados à indústria automobilística elétrica, em uma empresa distinta e abrir seu capital separadamente.

A eletrificação depende sim de políticas de Estado, que apontam direções, e devem ser realizadas conjuntamente por todos os entes federativos.

Carros elétricos, aliado a geração distribuída, devem provocar uma revolução no abastecimento e no compartilhamento de dados. Afinal, esses carros podem ser abastecidos no quintal da casa de qualquer pessoa ou empresa.

Imagine se os dados são compartilhados, e você indo da sua casa para o centro da cidade recebe por aplicativo, que sabe o seu destino, uma oferta do melhor estacionamento, com a melhor condição de abastecimento?

Pense no potencial dessas informações compartilhadas e claro dos requisitos mínimos previstos em lei para segurança desses dados compartilhados.

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