Há apenas cinco dias do tríduo momesco de 1961 (11, 12, 13 e 14 de fevereiro) tomou posse o prefeito Paulo de Tarso
Por Sérgio Botelho – DF
Quando Brasília foi inaugurada oficialmente em 21 de abril de 1960, até a Páscoa já havia passado. O Carnaval, daquele ano, teve seu último dia em 1 de março. Em torno de 10 meses depois, em 11 de fevereiro de 1961, já acontecia o Sábado de Carnaval.
Brasília experimentava, naquele momento, o primeiro ano de um dos governos federais mais confusos da história do país, sob o comando do imprevisível Jânio Quadros. As obras da cidade estavam paralisadas e a nova capital federal vivia uma situação de desemprego altamente preocupante.
Portanto, sem clima e nem dinheiro para uma folia minimamente organizada.
Há apenas cinco dias do tríduo momesco de 1961 (11, 12, 13 e 14 de fevereiro) tomou posse o prefeito Paulo de Tarso, substituindo Bayard de Lima, que administrou Brasília por meros cinco dias, após substituir o histórico Israel Pinheiro que governou Brasília de 5 de agosto de 1960 a 31 de janeiro de 1961, após um período anterior de 17 de abril e 5 de maio de 1960.
Outro prefeito, Segismundo de Araújo Melo havia ficado à frente da Prefeitura de Brasília entre 5 de maio de 1960 a 5 de agosto do mesmo ano. Dessa forma, de nenhum lado havia situação favorável para que houvesse um Carnaval planejado.
Assim, somente em 1962, já no governo João Goulart, ano de Carnaval com início em março (no caso, 3, 4, 5 e 6), é que houve a primeira tentativa de a prefeitura, então sob o comando de José Sette Câmara Filho, ex-governador do Rio de Janeiro, de melhor organizar o evento mais popular do país de forma melhor programada na nova capital.
O local escolhido foi a W3, no caso a Sul, porque até início da década de 1970 a W3-Norte pouco havia avançado em seu processo de urbanização.
Segundo a programação feita pela prefeitura, o carnaval começaria para valer no domingo, 4, com o desfile do rei Momo, da rainha e das princesas da folia. Já na segunda-feira, dia 5, haveria desfile de escolas de samba, na parte da noite.
Desde o domingo, contudo, já aconteceria o famoso corso e o desfile de pequenas sociedades carnavalescas. Com alguns atropelos, tudo deu certo. Contudo, o que a imprensa divulgou no início do período carnavalesco é que a cidade estava esvaziada.
Os funcionários públicos se mandaram para o Rio de Janeiro. O prefeito Sette Câmara havia optado por passar o período da folia no Bananal. Um dos bailes de clube programados “Mamãe Vou ao Supermercado” findou cancelado. O ponto de encontro popular ficou mesmo marcado para o Lago do Paranoá.
O Carnaval de rua na capital federal ainda teria que esperar algum tempo para se viabilizar. O que definitivamente aconteceu, a juntar a tradição dos desfiles e os monumentais e massivos blocos de rua, somente no Século XXI, este que a gente vive.
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