As comemorações dos 80 anos desta contraofensiva representa uma lufada de esperança de dias melhores que virão
Por André César – SP
Em todo o globo, a democracia vive um momento de baixa inédito na história recente, com a ascensão de movimentos xenofóbicos, racistas, negacionistas, com a disseminação de fake news e a progressiva redução dos direitos das minorias.
Dito isso, as comemorações dos 80 anos do Dia D, evento crucial para a definição dos rumos da Segunda Guerra Mundial, representam uma lufada de esperança, ainda que tênue, de que dias melhores virão.
Apenas para relembrar, em 6 de junho de 1944 foi realizada pelos aliados a Operação Netuno (parte da Operação Overlord) na Normandia, localizada na costa da França. Tratou-se de um verdadeiro “drible” em Hitler, que esperava a invasão em outro local e, desse modo, deixou exposta a região.
Os números impressionam. Um ataque aéreo de mais de mil aviões precedeu um desembarque anfíbio, envolvendo mais de cinco mil embarcações.
Cerca de 160 mil homens cruzaram o canal e, com isso, mais de três milhões de soldados aliados estavam na França até o final de agosto. Os alemães ficaram encurralados – e as baixas foram pesadas dos dois lados.
Invasão da Ucrânia, atrocidades em Gaza
Na cerimônia desse ano, os chefes de Estado e de governo presentes à celebração (Biden, Macron, rei Charles III) relembraram o quadro desse um quarto de século XXI, inevitavelmente comparando com aquele momento. Nada mais simbólico.
Nem tudo são flores, porém. Em meio ao conflito com o Ocidente, a Rússia de Putin acusou os Estados Unidos e o Reino Unido de minimizar o papel soviético na luta contra os nazistas. A troca de farpas apenas alimenta a tensão na Europa e torna mais difíceis as já conturbadas negociações para encerrar os combates na Ucrânia.
Em outros anos, a memória do Dia D igualmente registrou momentos marcantes. Em 1984, em plena Guerra Fria, o então presidente Ronald Reagan celebrou os “40 anos da retomada da liberdade e, em especial, do povo judeu”, clamando por liberdade em todo o mundo naquele final de século XX – uma estocada nos adversários soviéticos, já perto da debacle.
Anos depois, George Bush, em resposta ao francês Jacques Chirac, afirmou que “nossos meninos americanos deixaram seu sangue nessas praias para defender o povo da França”. Outra estocada, dessa vez em cima de um aliado de longa data.
Por coincidência, as comemorações de agora do Dia D se deram junto às eleições do Parlamento Europeu, que registraram crescimento expressivo da ultradireita, com seu discurso de ódio contra as minorias. A história vive em ciclos, como se sabe – mas que as lições da Normandia sirvam de alerta para o mundo.
Nota da Redação – Para saber mais sobre o Dia D na Normandia
Sugestão – Dez filmes sobre o desembarque na Normandia
Sugestão 2 – Documentário completo sobre a invasão da Normandia