Por incrível que pareça, em que pese tanta informação e possibilidades de pesquisas, a opção cega pela ignorância se mantém firme
Por Charles Machado- SC
Um recente estudo publicado na Science, “Redução duradoura de crenças conspiratórias por meio de diálogos com IA”, que foi realizado em 2190 autodeclarados americanos – que seguiram uma série de teorias da conspiração completamente absurdas -, mostrou que interagir com um chatbot de inteligência artificial sobre o assunto pode reduzir significativamente a força dessas crenças, e que esse efeito durou até dois meses depois.
Para os especialistas, o segredo do sucesso, reside no fato do chatbot, com sua capacidade de acessar grandes quantidades de informações sobre uma enorme variedade de tópicos, ser capaz de adaptar com precisão seus contra-argumentos para cada indivíduo, ou seja para cada loucura dos moradores das bolhas, o chatbot pode com argumentos e informações cientificas demonstrar o tamanho do delírio dessas teorias.
Por incrível que pareça, em que pese tanta informação e possibilidades de pesquisas, a opção cega pela ignorância se mantém firme.
Mais de 50% dos americanos afirmam acreditar em pelo menos uma das chamadas “teorias da conspiração”, explicações bizarras para um evento ou situação que afirmam a existência de uma conspiração de grupos poderosos e sinistros, muitas vezes politicamente motivados.
Em geral, esses indivíduos tendem a transformar as teorias que acreditam apoiar algumas de suas crenças em uma parte fundamental de seu esquema de vida ou visão de mundo, os fundamentos do edifício que apoia suas crenças, e a reagir de maneiras exacerbadas ou mesmo violentas quando essas teorias são ameaçadas ou desafiadas.
É o que chamamos de backfire, ou perseverança das crenças, que os leva a manter uma crença, apesar da disponibilidade de novas informações que a contradizem firmemente.
As teorias da conspiração variam muito de pessoa para pessoa. São bastante heterogêneas e as tentativas de desmascará-las nas quais você tenta argumentar amplamente contra uma teoria da conspiração, geralmente não são eficazes. As vítimas dessas teorias geralmente têm versões diferentes dessa conspiração em suas cabeças, afinal é as mentiras e delírios que repousa a paz de espírito de muitos.
Já um chatbot de inteligência artificial, além de dificultar o desenvolvimento de reações agressivas ou perseverança de crenças, pode adaptar os esforços de desmascaramento a todas essas diferentes versões de uma conspiração, logo em tese é melhor você ofertar um chatbot para aquele amigo ou parente lunático do que querer convencê-lo.
No caso da pesquisa, os participantes responderam a um conjunto de perguntas sobre sua teoria da conspiração favorita antes e depois de seus diálogos com o chatbot, que duraram cerca de oito minutos em média, bem mais rápido do que a sua tentativa de diálogo com os negacionistas.
Como resultado, esses diálogos direcionados resultaram em uma diminuição de 20% nas crenças errôneas dos participantes, uma redução que, além disso, persistiu até dois meses depois, quando os participantes foram submetidos a uma reavaliação, ou seja uma redução de 20% dos ignorantes.
Parte artificial não é inteligente e a parte inteligente não é artificial
A inteligência artificial já está demonstrando seus benefícios em áreas como medicina ou educação, mas ainda tem um longo caminho a percorrer em sua aplicação aos processos de produção.
Como todas as grandes inovações, a inteligência artificial aplicada aos processos produtivos ainda levará tempo para mostrar resultados notáveis. Mas, sem dúvida, mudará o mundo e eu pessoalmente acredito que será para melhor, desde que seu desenvolvimento seja devidamente regulamentado.
No momento, existem três disciplinas em que seus benefícios já estão sendo amplamente sentidos: medicina e educação, além de videogames que sustentarão o futuro metaverso.
Porém, por mais que as pessoas temam que essa tecnologia tenha vida própria no futuro, a IA não é nada inteligente. A parte artificial não é inteligente e a parte inteligente não é artificial.
Essa inteligência toma decisões com base na probabilidade, mas não trabalha com a lógica dos humanos, porque carece da capacidade associativa, do simbolismo, da associação de ideias, do duplo sentido e do conhecimento do mundo.
Em todos os sistemas de IA, os humanos são os inteligentes e, embora o ChatGPT e a empresa possam vencer quase todos os jogos de xadrez, eles realmente não entendem o que estão dizendo.
A IA é uma ferramenta que serve para melhorar a produtividade e eliminar tarefas rotineiras. A substituição de pessoas por robôs pode ocorrer em tarefas simples e automatizáveis, mas mesmo nesses casos a participação humana será necessária para supervisionar qualquer trabalho.
Lembro que o avanço dos estudos é sempre o resultado do impulsionamento conveniente do mercado. Da mesma maneira, os valores das empresas de capital aberto nas bolsas de valores de todo mundo, as pesquisas, majoritariamente, são sempre movidas pelas expectativas de resultado
Reside aí a importância do fomento público à pesquisa, que fique fora da lógica reinante do mercado.
O mercado, quando intervém na pesquisa, dando sua diretriz, sempre o faz em nome da expectativa dos resultados financeiros que possam refletir no médio e longo prazo no valor do negócio. E aqui não existe nenhuma crítica nesse artigo, mas mera constatação factual.
O desenvolver da inteligência artificial ocorre paralelamente a compreensão do cérebro e é nessa complexidade e ignorância do objeto, que cérebros e o universo se assemelham. Todos nós tempos uma parcela ínfima do seu conhecimento, por mais interessante e necessário que seja o estudo nesses dois mundos, cérebro e universo.
Vejamos os números, se a Internet (WWW) tem 10 bilhões de conexões, o cérebro tem cem bilhões de neurônios envolvidos em três vezes mais nódulos e sinapses neurais do que toda a rede mundial da Internet, o que já causa espanto quando se fala em complexidade do cérebro e de se imaginar a distância que temos percorrer para maturidade da inteligência artificial.
Durante a maior parte de nossas vidas, estamos mudando porque nosso cérebro muda; e na maturidade este órgão irá adaptar e eliminar conexões cerebrais que não o serviram anteriormente.
Logo o estudo da inteligência artificial, de forma análogo evolui sempre por um terreno ainda mais complexo e ilimitável. É de se destacar que a coisa mais complexa que nosso corpo faz é desenvolver impulsos sinápticos (impulsos nervosos) ao longo de duas décadas de vida, um mecanismo resultante de dois milhões de anos de evolução da espécie humana para se adaptar ao seu ambiente, e em evolução permanente.
O difícil sempre será combater a escolha dos ignorantes em ficarem mergulhados no ópio das suas teorias conspiratórias, um lugar confortável para ficarem, considerando que tudo em suas vidas tem um culpado, quase sempre longe deles.