Dados do Peace Research Institute Oslo, 2023 registraram 59 conflitos armados, envolvendo 34 países
Por André César – DF
A Organização das Nações Unidas (ONU) está em uma encruzilhada. Não consegue cumprir uma de suas principais atribuições, evitar conflitos pelo planeta, e tem sua atuação questionada até mesmo por seus membros.
O discurso do presidente Lula da Silva (PT) na abertura da Assembleia Geral, apesar de apresentar muitas contradições, aponta esse quadro.
Aos fatos. Hoje, os conflitos na Ucrânia e entre Israel, Hamas e Hezbolah ganham escala, bem como a crise vivida pelo Sudão, que ameaça a vida de milhões de pessoas – nesse caso, há pouca atenção sobre o conflito interno.
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Para registrar, dados do Peace Research Institute Oslo, 2023 registraram 59 conflitos armados, envolvendo 34 países. Esse total representa simplesmente o maior número de guerras desde 1946, quando a ONU foi criada.
Aqui entramos no discurso do presidente brasileiro. Ele criticou os ataques de Israel em Gaza e no Líbano, sem citar que toda a ação teve início com o ataque do Hamas, no início de outubro do ano passado. Igualmente não comentou o fato de que a Rússia invadiu a Ucrânia, em um ato de força desmedida que atingiu a população civil.
(Nota de rodapé. Lula criticou o israelense Benjamin Netanyahu e foi fortemente atacado pelo ucraniano Volodymyr Zelensky, o que indica debates ainda mais pesados. O presidente da Ucrânia busca urgentemente encaminhamentos democráticos, segundo ele).
Na verdade, o melhor momento de Lula em sua fala foi a solicitação de reforma no Conselho de Segurança da ONU.
O formato realmente favorece os cinco países com poder de veto (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China), vencedores da Segunda Guerra Mundial e potências nucleares, relegando as demais nações a um plano subalterno. Ora, o mundo é outro nesse século XXI e algo precisa ser feito. O que e como, ainda não há respostas.
Outro ponto controverso do discurso presidencial diz respeito ao caos climático global. Ele afirmou que o mundo “está farto” de acordos não cumpridos, mas parece se esquecer de que o Brasil vive um momento dramático, sem que o governo demonstre a mínima capacidade de enfrentar a situação, ao menos por ora.
Lembrando sempre que o país sediará a COP30 no próximo ano, em Belém (PA), e precisa resolver com urgência seus problemas, sob o risco de fracasso do evento.
Enfim, fica a impressão geral de que a ONU está se tornando obsoleta, conforme apontado por Lula da Silva. O presidente, no entanto, cometeu equívocos em determinados pontos e pode ter saído enfraquecido diante da comunidade internacional. Tese polêmica, a ser conferida ainda em 2024, principalmente com a reunião do G20, no Rio de Janeiro.