Atualmente as relações exigem competências emocionais múltiplas e disponibilidade para se lançar no mercado dos afetos
Por Misto Brasil – DF
Dados do Sensor Tower, consultoria especializada em aplicativos de celular, mostram a queda nos números operacionais do Tinder no Brasil.
A quantidade de usuários ativos caiu 24%, saindo de 5,4 milhões no primeiro trimestre de 2022 para 4,1 milhões no terceiro trimestre deste ano.
Nessa toada, os downloads semanais recuaram 23%, passando de 140 mil para 107 mil no mesmo período, mostra uma reportagem do InfoMoney.
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Mesmo que os usuários do Tinder, Bumble, Grindr e afins estejam passando por uma exaustão diante desse “empreendedorismo romântico”, isso não significa que as expectativas sejam do fim da era dos relacionamentos por tela.
Dados da Statista mostram que 16,7 milhões de pessoas usaram serviços de namoro online no Brasil no ano passado e, para 2028, a expectativa é de que o número chegue a 18 milhões.
O número de pagantes, que obtêm recursos premium dessas plataformas, deve ficar estacionado em aproximadamente 3 milhões.
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A coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Carmita Abdo, comentou que as “dinâmicas dos aplicativos levam a encontros que, muitas vezes, não representam nada diante da expectativa do usuário”.
Segundo ela, isso pode ser tanto em relação ao que foi projetado sobre o outro quanto sobre a si próprio.
“O indivíduo pode estar com a autoconfiança abalada, por se sentir inexperiente ou menos atraente. A ‘parceria’ pode também não atrair ou o outro não se ‘desempenhou bem’ no primeiro encontro”.
A professora de Antropologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), Larissa Pelúcio, fala sobre a “uberização” do amor em tempos de aplicativos de namoro em um artigo acadêmico.
Segundo ela, atualmente as relações exigem competências emocionais múltiplas e disponibilidade para se lançar no mercado dos afetos como “empreendedores”.
“Esteja disponível para novas aventuras (ou para novos matches e crushes); não hesite e não pare; não se prenda a pactos e não nomeie as relações, isso limita a sua experiência; seja livre, mesmo que isso doa um pouco”, exemplifica Larissa Pelúcio ao falar da lógica vigente na “uberização” do amor.
A pesquisadora afirma ainda que, sem regulações claras, as pessoas estão explorando um novo regime de gestão dos sentimentos, que também é algorítmica — visto que o aplicativo busca conectar as pessoas com “pares ideais”, considerando escolhas feitas previamente, “pistas” deixadas em outras redes sociais entre outros dados.