A realidade das mulheres passa longe dos papéis que a direita radical sugere à elas. As eleições municipais mostraram a importância do eleitorado feminino
Por Clarice Binda – DF
As mulheres são maioria da população brasileira. Em decorrência, dados do Tribunal Superior Eleitoral constatam que as mulheres brasileiras representam mais da metade do eleitorado brasileiro (52%), o que lhes confere uma posição de destaque e um poder significativo no resultado das eleições.
Esse protagonismo se traduz em uma responsabilidade social: ao exercerem seu direito de voto, elas têm a oportunidade de influenciar diretamente nas políticas que impactam a vida de todas as pessoas. O que as eleições partidárias vem mostrando é que o voto das mulheres é decisivo em qualquer eleição. Mas o que as mulheres querem e pensam?
As eleições municipais deste ano mostraram a importância do eleitorado feminino. Não à toa que a maioria dos candidatos que se alinham a uma pauta política que inferioriza as mulheres, definindo-lhes papéis que não as cabe mais há séculos, perderam as eleições municipais deste ano.
A título de exemplo, vejamos o caso da cidade São Paulo.
Muitos pesquisadores atribuem ao voto feminino o fato de o candidato Pablo Marçal (PRTB) não ter tido votos suficientes para disputar o segundo turno da eleição para prefeito da maior cidade do Brasil. Isso porque, em sua campanha, o candidato chegou a dizer que “mulher não vota em mulher” porque “é inteligente”.
As pesquisas eleitorais mostravam que o candidato tinha grande rejeição no eleitorado feminino (59% das mulheres).
Em outra capital, Fortaleza, no Ceará, outro candidato com falas preconceituosas em relação às mulheres perdeu a eleição no segundo turno.
O prefeito de Fortaleza e candidato à reeleição, José Sarto (PDT), publicou um vídeo de 2018 do seu adversário André Fernandes (PL) em que ele fala sobre aborto e estupro, afirmando que do mesmo jeito que os homens não podem opinar sobre aborto, as mulheres então não deveriam opinar sobre o estupro.
André Fernandes teve 49,62% dos votos no segundo turno, perdendo para o candidato Evandro Leitão (PT) que teve 50,38% dos votos válidos.
Em uma era de informação acessível, as eleitoras têm cada vez mais conhecimento e consciência crítica sobre o que querem, pensam e quais propostas são verdadeiramente efetivas à sua vida.
Assim, pautas políticas que não estão de acordo com a nova realidade das mulheres no Brasil não ganham apoio da maioria das eleitoras. As pesquisas eleitorais mostram que as mulheres optam, em sua maioria, por espectros políticos mais voltados ao centro do que à extrema direita.
A realidade das mulheres, e seus anseios, passa longe dos papéis que a direita radical sugere à elas. As mulheres de hoje são protagonistas nos seus lares e exercem importante papel no mercado de trabalho. Ou seja, o discurso político que não protagoniza a mulher em seus papéis privados e públicos não tem campo na maioria do eleitorado brasileiro.
Por isso, propostas políticas que não tem como preocupação o papel do poder público com pautas que afligem as mulheres são insuficientes para ganhar o eleitorado feminino. Exemplo disso, é a temática da violência contra as mulheres.
Candidatos que verbalizam discursos de ódio, com violência, autoritarismo e preconceito, tem pouca ou nenhuma adesão no eleitorado feminino.
A derrota de candidatos desalinhados com as pautas das mulheres no Brasil não é uma coincidência, mas um reflexo do poder de um eleitorado consciente e ativo. Essa nova realidade envia uma mensagem clara: é imprescindível respeitar e valorizar as demandas femininas para garantir uma representatividade que abranja todas as vozes da sociedade.
E as mulheres tem um papel decisivo nos rumos da política do futuro no Brasil.