A rigor, as curvas dos dois institutos têm a mesma trajetória, o que significa uma má notícia para o governo
Por André César – SP
Duas pesquisas recém-divulgadas atualizam o olhar da opinião pública sobre o governo Lula da Silva (PT).
Apesar das metodologias distintas, os números apresentados pelo DataFolha e pelo Ipsos-Ipec indicam um quadro de certo modo semelhante – eventos recentes dificultam a recuperação da popularidade do titular do Planalto.
Aos números. Segundo o DataFolha, 28% do eleitorado considera a atual administração boa ou ótima, contra 40% que tem ruim ou péssimo como avaliação e 31% regular.
No levantamento anterior, realizado em abril, o resultado foi, respectivamente, 29%, 38% e 32%. Leve oscilação para baixo, o que certamente incomoda o Planalto.
O Ipsos-Ipec, por seu turno, mostra 25% de aprovação (bom ou ótimo), 43% de desaprovação (ruim ou péssimo) e 29% regular. A pesquisa anterior, de março, apresentava, respectivamente, 27%, 41% e 30%.
A rigor, as curvas dos dois institutos têm a mesma trajetória, o que significa uma má notícia para o governo, que vê o jacaré abrir a boca contra si.
Olhando-se com maior detalhe, o cenário fica mais claro. Os dois levantamentos mostram que o presidente não consegue ganhar tração junto a setores essenciais para o PT e seus aliados – a região Nordeste, reduto do petista, os eleitores de menor renda, pardos e pretos e mulheres.
Importante observar que, apesar de movimentos recentes do próprio presidente, o governo segue tendo avaliação negativa entre os evangélicos, outro campo sensível no plano politico.
Algumas hipóteses ajudam a entender o atual momento do governo. O escândalo do INSS, largamente explorado pela oposição e pela imprensa, talvez seja o caso mais evidente.
O assunto é política e socialmente delicado e, de fato, o Planalto tem dificuldades em abordar o problema – mesmo que o esquema tenha sido iniciado em gestões anteriores.
Igualmente o imbróglio em torno do IOF, embora mais complexo, passa ao eleitor médio a sensação de que o Planalto (e, no caso, a equipe econômica) não tem musculatura política para enfrentar o Congresso Nacional.
A artilharia contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apenas joga mais lenha na fogueira.
A mudança no comando da comunicação palaciana, até agora, não surtiu efeitos práticos, e integrantes da (frágil) base menos alinhados ao governo começam a se mobilizar abertamente em busca de alternativas para 2026. Por ora, o jogo está longe de ser favorável ao presidente.