Todos os algoritmos são ajustados permanentemente e com isso os métodos probalísticos de diagnósticos vão ampliando a sua assertividade
Por Charles Machado – SC
Imagine, que ao entrar em um pronto socorro, você passa pela recepção, presumidamente sem recepcionista, apenas um monitor que, ao ser tocado por você, de imediato faz o seu reconhecimento facial, indicando qual a sala de consultório deveria me dirigir e quantos minutos faltava para o início da sua consulta.
Sem lhe pedir nenhum documento inicia a sua interação diretamente pela tela, que apresenta as suas informações pedindo apenas que você confirme. Na sequência, uma voz anuncia o seu nome indicando a sala para onde você precisa se dirigir.
Ao entrar, o primeiro susto. Ele me cumprimenta antes de você falar a primeira palavra como se já se conhecessem há séculos. Como era a primeira consulta, depois de algumas frases com o propósito de quebrar o gelo, ele iniciou a anamnese.
Era realmente muito diferente, pois tudo que você falava ele nada anotava, apenas lhe olhava, e com seus sensores captava seus batimentos, temperatura e todos os demais sinais vitais. Era a sua primeira consulta com um médico robô.
O exercício ficcional dos parágrafos acima para tratar desse assunto é apenas para dar a dimensão do que está muito próximo de acontecer.
Sim, teremos muito em breve médicos robôs, em que pese toda oposição das entidades de classe. E isso deve começar pelos países mais ricos e com legislação mais aberta, em decorrência do total domínio da medicina pelos grandes planos de saúde. Sim, eles serão os primeiros a adotar como medida de economia. Pense nisso!
O sonho dos planos de saúde, médicos que podem atender 24 horas por dia, sem férias, ou viagem para cursos. Afinal, toda e qualquer atualização desses profissionais ocorre pela nuvem, todas as pesquisas são atualizadas on-line o tempo todo.
Todos os algoritmos são ajustados permanentemente e com isso os métodos probalísticos de diagnósticos vão ampliando a sua assertividade. Tudo on-line, sem depender do interesse do profissional pela atualização ou não, sem depender de suas crenças ou não.
Não tenho duvida que isso assusta a grande maioria, afinal a crença dos profissionais em sua imprescindibilidade não é uma característica de médicos, advogados ou contadores, mas sim do homem, que acredita sempre ser insubstituível.
A nossa fé cristã, seja pelos valores educacionais ou pela ideologia reinante na sociedade nos leva à certeza de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e só por isso quase sempre acreditamos que vamos caminhar nessa vida sendo hoje e sempre o centro do universo.
Curioso é que, em que pese toda dinâmica social e econômica, o homem anestesiado em seu ópio existencial não percebe que a relação social entre homens é, na maioria das vezes, utilitarista, variando sempre de acordo com a necessidade e o desejo dos outros para conosco, naquilo em que provamos ser mais ou menos úteis aos outros. Eu sei que é doloroso pensar assim, mas quem se prepara para o pior, quase sempre sofre menos no deserto de valores que o poder semeia.
Valores e o elemento ideológico
Com o caminhar da humanidade, o conjunto de valores se modifica, pois entra em cena mais do que um elemento ideológico. Entra a sua necessidade primária de sobrevivência, de perda de espaço. Na sociedade, máquinas ficam obsoletas e pessoas também ficam. Afinal, pense nas antigas ascensoristas de elevador, nos cobradores de ônibus. Como imaginar suas atividades nos dias de hoje? Como pensar nessas funções laborais?
A lógica sempre será por um serviço e ou produto mais barato, que lhe garanta a mesma ou melhor qualidade. Pense nisso: quando você procura comprar uma camiseta mais barata você levou em consideração que aquele preço foi possível graças à automatização (entrada de robôs no lugar de pessoas) daquela produção ou apenas o preço lhe importou? E se fosse o seu posto de trabalho? Você veria o robô como o amigo que, ao entrar na produção, reduziu o custo do produto, ou como o seu inimigo que levou o seu emprego?
A dinâmica do sistema nos leva a uma concorrência que implica em tomada de mercado com diferencial tecnológico, seja por meio da inteligência de produção, com a substituição de homens por máquinas ou de gestão, quando novos softwares automatizam processos e reduzem custos. Reflita sobre isso nas estruturas administrativas de hospitais, clínicas e consultórios.
A Inteligência Artificial presente em softwares de atendimento, ou na presença física de robôs na produção é a materialização dessa substituição. Logo, lembro que a Inteligência Artificial é transversal e vai atingir todos os meios de produção em menor ou maior grau.
Ela vai invadir escolas e residências, alterando apenas a intensidade e o momento que vai bater na sua porta, e, no caso da saúde, antes de termos um médico personalizado por um robô, virão os chatbots de atendimento pelo celular de forma remota.
Mas isso será proibido pelo Conselho de Medicina? Ingênuo você, pois a proibição só vai servir para que essas plataformas de atendimento se instalem em outros países com atendimento em qualquer idioma, sem nenhum controle de órgão regulatório brasileiro, mas com selo de grandes laboratórios mundiais que vão atestar essa prestação de serviço.
O comando da inteligência artificial no mundo se dá e se dará, pelas grandes plataformas. No caso dos Estados Unidos, pelas Big Techs como Microsoft, Google, Facebook, Amazon e Apple e suas equivalentes chinesas como AliBaba e WeChat. Na Rússia e na Índia também há empresas desenvolvendo a tecnologia, mas dificilmente fora desse eixo alguém vai conseguir exercer domínio do desenvolvimento da inteligência artificial.
Ou você acha que todos os seus dados de saúde e “qualidade de vida” captados por gadgtes como smartwtachs entre outros são para mera informação sua. Nada, queridão! A Apple quer ser seu médico, sim!
Portanto, nesse debate fique longe dos extremos. Eles ficam ótimos para discursos inflamados e péssimos na realidade. Liberais que acreditam que o mercado resolve tudo existem apenas pela fé ou pela inocência em imaginar que os fortes, quando podem não exercem sua força, exercem sim e maximizam suas posições, não importando quem vai sangrar, se é o seu bolso ou o seu emprego.
Nesse artigo, foi utilizado o médico como referência, mas pense em quantas outras profissões a substituição do homem pela máquina ocorrerá bem antes?