Uma lição e tanto de cidadania

Texto de Maurício Nogueira

Sabe, como é, às vezes a gente está mais disposto e com tempo para conversar. Outro dia, lá estava eu dentro do coletivo (“baú” como os jovens ainda chamam os ônibus em Brasília) e acabei puxando conversa, trocando ideias com a cobradora da empresa Piracicabana, em Brasília. Perguntei-lhe se a infestação de baratas que assolava os carros, principalmente, à noite, havia sido controlada. Ela me respondeu positivamente.

Então, continuamos o bate-papo. Eu citei o fato de ainda muitos usuários e usuárias de transporte coletivo público não colocar o lixo no lixo. É comum ver embalagens de alimentos como batatas fritas jogadas embaixo de bancos, pedaços de balas e restos de lanches no chão do ônibus. Restos de alimentos que atraem os insetos rastejantes. E ainda outro tipos de detritos espalhados pelo interior dos ônibus, principalmente.

Falta de educação

Durante a conversa, que foi de cerca de dez minutos, pois eu estava ainda distante da parada aonde eu desceria, a cobradora disse que ficava revoltada. Sim, com o comportamento dos passageiros no quesito educação ou a falta de, que poderia até ser classificada como ambiental.

Ela contou que, em certa viagem, garotos começaram a sujar o corredor do ônibus com muitos papéis picados, na verdade pré-adolescentes. Ficou injuriada com tamanha falta de educação. Ao perceber que estavam se arrumando para descer, ela pediu para que os garotos recolhessem a sujeira produzida por uma brincadeira fora de hora e lugar.

“A gente pagou”

Ignorada em princípio, teve que ser mais enérgica. Na primeira vez que, educadamente, solicitou aos adolescentes que recolhessem o lixo, ela disse que ouviu, espantada, argumento de um deles. “Mas a gente pagou a passagem!“ Ao que ela respondeu-lhes que não era o fato de ter pago a passagem que poderiam fazer desordem deixando sujeira no assoalho do ônibus.

“Podem recolher essa sujeira toda e colocar no lixo. Há duas lixeiras. Se não pegarem, o motorista vai parar o ônibus e chamarei a polícia”, disse a cobradora.

A “ficha caiu” e cada adolescente se mexeu para recolher o lixo e depositá-lo nas lixeiras. Contrariados, claro, recolheram o que haviam jogado fora do lixo.

Cumprimentei a cobradora, pela atitude educativa. E pensei com meus botões o quanto é salutar dar e receber lições de cidadania no dia-a-dia. Os adolescentes, claro, foram contrapostos à parede da razão. Infelizmente, não são só os adolescentes que continuam a jogar lixo fora do lixo. E muito menos somente os usuários de ônibus que mantêm esse péssimo costume.

À responsabilidade

Aposto que ao compartilharem a estória, se é que o fizeram, certamente, ouviram maior número de algo como “bem feito” do que opiniões favoráveis a eles, pela insensatez cometida.

Eles se deram “mal”, por um lado (deles). Se deram bem, por outro, porque estavam no ônibus da cobradora que não deixou passar batido. Chamou-os à responsabilidade, dando uma lição de cidadania. Espero, sinceramente, que a tenham aprendido.

Despedi-me, desejando bom trabalho à cobradora, que quis ficar no anonimato, antes de eu descer na parada de meu destino. Não me contive, precisei compartilhar esta crônica.

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