Texto de Marcio Bittar
Pela simples observação chega-se à conclusão de que mudança é uma constante do clima. Há estações do ano, há períodos em que chove mais e outros menos, há terremotos, furacões, tornados, tempestades, inundações, secas e muitos e diversos outros fenômenos climáticos em plena atuação no mundo. Se existe uma certeza, é de que o clima muda. Hoje, sabe-se que as mudanças climáticas se dão por complexas interações entre fatores naturais independentes, em sua maioria, da ação humana.
A intensa e constante mudança no clima é constatada nos fatos. “Contrariamente à percepção comum, o clima, definido como média das variáveis meteorológicas ao longo de trinta anos, varia permanentemente. A figura (…) do IPCC ilustra as variações de temperatura ao longo do último milhão de anos, mostrando glaciações e degelos”. (….) “Numa escala de tempo mais curta, as variações são também bastante consideráveis. O Optimum climático medieval (950-1250 d.C.) foi marcado por temperaturas superiores às dos dias de hoje em mais ou menos 1,5ºC. A Pequena Era Glacial (1430-1850) viu, entretanto, um significativo resfriamento”, elucidou Pascal Bernardin em seu livro O Império Ecológico.
Dado o fato, vemos com desconfiança e ceticismo a comissão parlamentar permanente de mudanças climáticas instalada no Senado Federal. Não é racional propagar teses ou hipóteses apocalípticas, que não correspondem minimamente a realidade dos dados, sobre mudanças climáticas. É completamente desnecessário e sem sentido uma comissão parlamentar para discutir teses e hipóteses abstratas e inúteis à vida cotidiana dos brasileiros.
Faria mais sentido uma comissão que discutisse a melhoria das condições de proteção da população das consequências dos fenômenos climáticos: uma espécie de comissão de prevenção de acidentes para elaborar marcos institucionais, planos de segurança de acidentes climáticos, leis e mudanças legislativas necessárias para garantir a amenização e prevenção das consequências dos fenômenos recorrentes ou cíclicos, como os incêndios na Amazônia ou alagações do rio Acre.
As questões ecológicas impostas pelo ambientalismo tornaram-se dogmas de fé, mitologia ou simples mentiras. São assim trabalhadas por um exército de ONGs e instituições a serviço dessa ideologia. Ainda, soma-se ao despropositado tratamento sensacionalista dado pelos meios de comunicação às mudanças climáticas. O circo está armado. O jogo é entorpecer o bom senso e induzir, por medo, concordâncias irrefletidas com o ideário anticapitalista e obscuro do ambientalismo radical e interessado.
Pascal Bernardin em O Império Ecológico, resume a situação: “Sabe-se que a participação permite aos atores modificar seus valores, atitudes e comportamentos, colocando-os de acordo com seus próprios atos. Trata-se aqui de base técnica da lavagem cerebral. A multiplicação das ONGs, criadas e subvencionadas pelas instituições internacionais e governos, e que permitem o engajamento de seus membros, fazendo-os participar, procede da mesma filosofia manipulatória”.
O escritor e jornalista britânico James Delingpole é ainda mais cirúrgico em seu livro Os Melancias: “Vivemos em um mundo em que a mídia de massa extrai suas histórias sobre meio ambiente diretamente dos comunicados para a imprensa expedidos pelas organizações verdes. A ONU e a União Europeia conduzem seus programas ambientais em íntima associação com essas organizações verdes. Os governos vivem com medo de ofender grupos ambientalistas e estabelecem suas políticas de modo a satisfazê-los”.
Há riscos de uma comissão permanente de mudanças climáticas tornar-se mais um meio de propagar e disseminar falsidades científicas em nome do ambientalismo irrefletido e imposto de fora para dentro. Certamente, os brasileiros não precisam de mais burocracia, perseguição e entraves impostos por leis ecológicas draconianas a limitar o crescimento do país e a geração de riquezas por meio do uso racional de nossos recursos naturais.
Sugerimos com ênfase que a energia financeira das ONGs ambientalistas e a ação parlamentar sejam canalizadas para apresentar soluções concretas aos grandes e verdadeiros problemas ambientais do país. Por exemplo, aumentar o percentual de acesso a rede de esgotos e água potável das populações dos estados Amazônicos. Hoje, segundo o IBGE, no Norte, quase 70% das residências não estão ligadas às redes de esgoto e 40% não têm acesso às redes de abastecimento de água.
Sempre é bom lembrar que mudanças climáticas fazem parte integrante da história do planeta e dos homens. São regidas pelo sol, oceanos, nuvens, vulcões, dentre outros complexos sistemas naturais. Houve mudanças drásticas quando os continentes foram formados. O deserto do Saara já abrigou o maior lago do mundo.
Áreas desérticas tornaram-se férteis e erupções de vulcões como o Thera, na Grécia, em 1645 – 1500 a.C., o Monte Vesúvio, em 79 D.C. e o Monte Tambora, em 1815, na Indonésia, mudaram a paisagem local e influíram diretamente no clima global. Foram eventos inalcançáveis e incontroláveis pelos homens. Muitas mudanças drásticas aconteceram sem mesmo o homem existir no planeta. Uma comissão parlamentar de mudanças climáticas estaria obrigada a convocar Deus para explicar as leis da natureza, pois os homens são vítimas das eternas mudanças e não seus autores.
(Márcio Bittar é senador da República pelo MDB do Acre)