Jornalismo em dissolução

Mídia
Novas tecnologias transformam a mídia tradicional e também o consumo de notícias/Arquivo

Texto de Dirceu Pio

Uma característica nobre do jornalismo sempre foi a sua capacidade de aplicar sobre a notícia o olhar do editor e assim estabelecer, em favor dos leitores, a hierarquia da informação.

As revistas impressas têm a capa e os jornais têm a primeira página e o alto da página, o tamanho da manchete – se em duas, três, quatro, cinco colunas – enfim, um arsenal de recursos para mostrar ao leitor o que os editores consideram mais ou menos importante.

Já a televisão tem a escalada (coisa bem brasileira, as manchetes do jornal que será apresentado, pronunciadas num tom de voz feito pra chamar atenção e acordar aquele telespectador mais distraído ou dorminhoco); as imagens de impacto; o encadeamento dos assuntos; e – um ótimo recurso – a entonação da voz do apresentador em toda a narração da notícia.
E o rádio tem a voz com toda a sua inflexão.

Essa característica – a hierarquia – seria ainda mais importante agora, quando o impresso e os meios eletrônicos em geral enfrentam a renhida competição com a “muvuca” da internet, onde o que menos há é separação entre o mais e o menos importante e os rótulos de “exclusivo”, “inédito” ou “urgente” já não querem dizer muita coisa a um público que mal consegue separar verdade de fake-news.

Só que não ! Hierarquia – descobrimos agora – tem a ver com credibilidade e esta tem a ver com inteligência que, que por sua vez, tem a ver com recursos.

Será, portanto, a cada dia mais dramática a luta pela sobrevivência da mídia tradicional, tanto impressa quanto eletrônica, porque o mercado que as sustentava – da publicidade – é arruinado pela internet.

O que poderia explicar, por exemplo, que um jornal da tradição de O Estado de São Paulo chamasse, nesta segunda-feira, 16-12, em primeira página a entrevista que fez com Dias Tóffoli, transformando um ministro mequetrefe num pensador importante da realidade política brasileira? E mais: vender a seus leitores a ideia de que a entrevista é algo importantíssimo já que os editores lhe abriram cinco colunas na capa, fora uma boa foto ?

E a não ser a falta de recursos, o que leva a ex-gigante Rede Globo manter na apresentação de um de seus mais importantes noticiosos, o Hoje, uma só apresentadora – Maria Júlia Coutinho, a Maju – e aparentemente sem suporte de um bom fonoaudiólogo com sua voz monocórdia, um verdadeiro convite a uma soneca após o almoço ?

A perda da hierarquia da informação é mais uma das grandes perdas que nos proporcionaram os “incríveis” avanços das tecnologias de informação…

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