Texto de Noemí Araújo
A desinformação sobre política gera prejulgamentos e deturpações que precisam ser desmistificados, diariamente. Hoje, em poucas linhas, a missão é reverter a ‘demonização’ do lobby, que somada ao preconceito, ainda é fortemente marcada pelo machismo, racismo e misoginia.
Tenho certeza que a primeira imagem que veio a sua cabeça ao ler o termo foi uma mala preta, dinheiro na cueca ou meias e de um homem. Culturalmente, o brasileiro associa a prática do lobby a algo criminoso, ilegal, feito com políticos que, automaticamente, tem a ver com corrupção. Negar que isso acontece seria desonesto e ingênuo. A linha pode ser tênue com o tráfico de influência, mas a generalização apenas reforça estigmas.
O lobby pode ser facilmente entendido como a defesa de interesses, o trabalho de influência de grupos organizados (de pressão), sejam empresas, entidades, segmentos da sociedade, sobre o poder público, o Governo, nas decisões políticas, no processo de formulação de políticas públicas. O propósito é facilitar e intermediar legalmente o diálogo da sociedade, pessoa física ou jurídica, junto aos agentes públicos, nos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, em todos os níveis: municipal, estadual e federal.
Em 2018, o extinto Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) reconheceu o lobby como ocupação, nomeando o “profissional de relações institucionais e governamentais” (RIG ou RelGov). Entretanto, a profissão ainda não foi regulamentada; uma grande e ainda complexa discussão, que aguarda apreciação pelo Congresso Nacional. Pauta essa que tem sido protagonizada pela Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), entidade civil sem fins lucrativos que fundada em 2007, com mais de 500 associados, atua na capacitação e formação da carreira.
A novidade é que, pela primeira vez, a Abrig tem uma presidente mulher. Carolina Venuto, sócia diretora da Ética, Inteligência e Política, assume a atual gestão se sentindo duplamente desafiada enquanto mulher nessa posição em “um ambiente masculinizado”; mas reforça o compromisso de “prezar pela transparência nos processos internos, pela busca legítima da regulamentação da nossa atividade, pela capacitação dos profissionais da nossa área e, não menos importante, por um mercado de RIG mais inclusivo e colaborativo”.
Na mesma direção, o Instituto de Relações Governamentais – IrelGov, criado em 2014 como um think tank para a área, também elegeu uma mulher como presidente. Suelma Rosa, diretora de RelGov da Dow, já anunciou: “Nenhum evento promovido pelo Instituto desrespeitará a equidade de gênero; painéis exclusivos de homens estão banidos”. A própria composição do atual conselho foi feita intencionalmente prezando pela representatividade de gênero (50/50), de raça e profissão; “contribuir para um novo modelo de atuação do profissional, perpassa por um dos 8 eixos dessa gestão: o de diversidade e inclusão”.
A segunda-feira (15) foi um momento histórico. Coincidência? Não. Despertamento justo e necessário. A certeza de duas gestões de sucesso, representativas e empoderadoras nos dá esperança em meio ao cenário político nacional. ‘Elas no Poder’ fazendo política é sinônimo de um ambiente democrático; afinal, sem democracia não tem RIG.