2020: o que a política nos ensinou – Parte 1

Retrospectiva 2020 máquina de escrever
Na área política,, apesar da pandemia, 2020 foi um ano bastante movimentado/Arquivo/Agendor
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Texto de Noemí Araújo

Chegamos ao último mês do ano com o sentimento de que ainda estamos paralisados em março. Como dizem: “nunca antes na história desse país” imaginamos passar por algo como o que passamos ao longo dos últimos nove meses. Mas a verdade, é que a dinâmica política brasileira foi intensa com diversas reviravoltas que têm nos surpreendido a cada dia. Para alguns: revisão de conceitos e valores; para outros, a consolidação das convicções já defendidas. E como eu disse no primeiro artigo que publiquei pelo Misto: Tudo é política. Tudo é sobre ela e por meio dela.

Ao longo desses meses percebemos claramente como as decisões políticas impactaram diretamente as decisões econômicas, as políticas públicas de saúde, educação e econômicas que foram adotadas. Mesmo aqueles que não se interessam, tem desgosto ou o chamado ranço sobre os debates políticos sentiram, literalmente, os resultados das ações e das não ações dos agentes públicos durante este período.

Hoje, contabiliza-se mais de 6.380.000 casos, sendo 173.862 mortes pela Covid-19. Ainda estamos aguardando a vacina e, paralelamente, o “novo normal” já foi retomado sob a sombra de uma segunda onda. Difícil falar dos impactos físicos, psicológicos, políticos, econômicos e/ou sociais causados pela pandemia. Eles ainda serão sentidos ao longo dos próximos anos. Fato é: a desigualdade social ficou ainda mais evidente e profunda; o egoísmo aflorou lado a lado à solidariedade e à compaixão, que cresceram em conjunto com a polarização política e a radicalização, e com o aumento da taxa de desemprego: 14,4%, cerca de 13,8 milhões de brasileiros.

E, tudo isso, em ano eleitoral: O discurso de 2018 foi adaptado; afinal, o risco de um impeachment estava iminente. O que tanto criticaram no governo passado, como as políticas assistencialistas, por exemplo, vieram com força na tentativa de salvar vidas e a popularidade para 2022. O liberalismo da direita foi travestido para o populismo conservador; e, as alianças que até então pareciam inquebráveis, resultaram em ‘divórcios’, haja vista a saída do Ministro Moro do governo Bolsonaro e tantos outros apoiadores.

O reflexo do rompimento dessas alianças apareceu no resultado das eleições municipais deste ano. Por mais que a esquerda tenha se afastado da máquina pública, o PT mesmo amargou uma grande derrota ficando sem nenhuma prefeitura de capital, a onda bolsonarista não conseguiu repetir o feito de 2018. O movimento de renovação política perdeu dinamismo e foi o centro político, os partidos do Centrão, que se beneficiaram com vitórias relevantes: PSDB, DEM e MDB vão governar cerca de 25% do eleitorado brasileiro e, por isso, já discutem uma aliança para 2022, o que deixa o Presidente Jair Bolsonaro mais dependente desses partidos caso queira a reeleição.

Recorde! Sim, para o número de candidaturas femininas (33,6%) e no total de mulheres eleitas, reeleitas em 2020. Todas as capitais do Brasil elegeram mulheres para o cargo de vereadora. Destaque especial para o trabalho da ONG Elas no Poder que conseguiu emplacar a vitória de 45 mentoradas pelo Brasil graças às ações desenvolvidas para a preparação e capacitação dessas mulheres com as mentorias e os materiais gratuitos ofertados pela Plataforma Impulsa, em parceria com o Instituto Update além de 14 entidades parceiras.

A Campanha #VEMVoteEmMulheres, que contou com mais de 40 entidades, também se fez essencial para a conscientização do eleitorado brasileiro sobre a importância do aumento da representatividade feminina na política, em conjunto com as novas regras que passaram a vigorar nesse pleito como: a reserva de, no mínimo, 30% dos fundos eleitoral e partidário e a aplicação do mesmo percentual ao tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão para as mulheres, com a obrigatoriedade dos partidos de fazer a divulgação dessas candidaturas.

Para a próxima legislatura, 16% das cadeiras do legislativo municipal serão ocupadas por mulheres e 6,3%, do total, por mulheres negras. Mesmo com a perceptível curva ascendente na participação feminina nos processos eleitorais, apenas 1 em cada 10 candidaturas a prefeitura são de mulheres. O resultado, no entanto, ainda é insuficiente e aquém da paridade de gênero que tanto almejamos, que é imprescindível para uma democracia saudável e, de fato, representativa. Continua…

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