Texto de Vivaldo de Sousa
Além da perda de emprego e de renda, parcialmente recomposta para parte da população que recebeu o auxílio emergencial, a inflação para as famílias de menor renda foi maior do que para aquelas com renda mais elevada em 2020, conforme dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo IBGE. Foi o segundo ano consecutivo em que a inflação para os mais pobres foi maior na comparação com as famílias de maior renda.
Calculado com base nas famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos em dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília, o INPC registrou alta de 5,45% em 2020 e de 4,48% no ano anterior. Já o IPCA, que inclui as famílias que ganham até 40 salários mínimos, subiu 4,52% no ano passado e 4,31% em 2019.
Entre os produtos que pesaram no bolso dos brasileiros no ano passado estão alimentação e bebidas, habitação e artigos de residência, com pesos diferentes em cada indicado de inflação. No caso do IPCA, os dados do IBGE mostraram uma alta de 103,79% no preço do óleo de soja, de 76,01% no arroz, de 67,27% na batata-inglesa 52,76% no tomate, de 26,93% no leite longa vida e de 25,40% nas frutas.
Com a recuperação da economia ainda em ritmo lento e previsão de aumento do número de desempregados neste semestre, devido a maior procura com fim do pagamento do auxílio emergencial, as pressões pela prorrogação do benefício, já apresentada em pelo menos três proposta em discussão no Congresso Nacional, devem se intensificar em fevereiro, com a reabertura do Legislativo.
Mas os dados sobre variação de preços em 2020 mostram que a inflação chegou a 23,14%, quando medida pelo IGPM, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com uma metodologia diferente da usada pelo IBGE para o IPCA e o INPC. Já os custos na construção civil aumentaram 10,16% no ano passado, também segundo o IBGE. Foi o maior índice dos últimos sete anos, com alta de 1,94% somente em dezembro.
Embora não haja, no momento, risco de a inflação ficar fora de controle, o aumento de preços, especialmente de alimentos, num momento em que o desemprego também deve subir, é um tema que costuma trazer preocupações para as famílias e também para os políticos, especialmente para quem é candidato à reeleição em 2022. Mas a recuperação da economia, que gera empregos e renda, vai depender neste ano principalmente de uma campanha de vacinação em massa contra a Covid-19.