Texto de Vilson Antonio Romero
Falta adjetivos para definir os acontecimentos no período do Carnaval que não houve neste ano de 2021, ou 2020 que ainda não acabou. Num desdobramento de outras situações semelhantes em feriadões e no período de Natal e Reveillon, foram incomensuráveis as ocorrências de desrespeito, irresponsabilidade, despreocupação, desleixo, insanidade, e acima de tudo, atitudes criminosas, com dolo ou culpa, nos termos do Código Penal e legislação sobre o enfrentamento da pandemia.
Embora muito não deva ter sido noticiado, o que foi divulgado nas redes sociais, jornais, rádios e televisões nos deixa perplexos e extremamente preocupados, não com somente com a saúde física de nossa sociedade, mas até com a saúde mental dos que vivem à nossa volta, nossos conterrâneos.
Sabemos que, por desgoverno ou falta de estrutura de governos federal, estaduais e municipais, ônibus, metrôs, barcas e até aviões andam lotados, impedindo obediência às regras mínimas de preservação e distanciamento social recomendado neste momento gravíssimo e dramático em que estamos com mais de 1 mil mortes diárias decorrentes da Covid. Só no Brasil é como se sete Boeing 737 caíssem todo dia. Um desastre diuturno incomensurável que nos faz beirar a perda de 250 mil vidas desde março de 2020.
Pois nada disso sensibiliza milhares de brasileiros por todo o canto do país. Seja nas praias de rio, lagoa e mar, do Oiapoque ao Chuí. Até festa em cemitério já fizeram no interior do Rio Grande do Sul, em Pelotas. Há registro de aglomerações insanas em partidas de futebol, rinhas de galo, bailes funk por todo o canto, baladas na areia, seja em Capão da Canoa ou Atlântida, no Sul, Leblon e Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro ou praia da Pipa, no RN.
Pagodeiros promovem shows para mais de 8 mil pessoas na capital fluminense. No pátio de um Ciep ainda (Brizola se remexeu no túmulo!) Aviões de ricaços faziam fila no ar para aterrissar no aeroporto de Porto Seguro para as festas momescas e, antes, no final de ano, em Trancoso, Arraial D’Ajuda, Caraíva.
E isto que estamos numa “Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional”, decretada pela Organização Mundial da Saúde em 30 de janeiro de 2020. E isto que vigora a Lei 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que, em seu artigo 3º-A determina expressamente “é obrigatório manter boca e nariz cobertos por máscara de proteção individual, conforme a legislação sanitária e na forma de regulamentação estabelecida pelo Poder Executivo federal, para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao público, em vias públicas e em transportes públicos coletivos”.
O que vemos é exatamente o descumprimento disto, em todos os cantos, com jovens, adultos, crianças que circulam sem máscara, sem observar o distanciamento social, sejam quando fazem seus exercícios, caminhando, correndo ou pedalando nas áreas públicas, calçadões e parques das cidades, além de ser uma desobediência civil e legal, é um atentado contra os artigos 267, 268 e 269, do Código Penal, que tipifica como crime a propagação de germes patogênicos. E ninguém ou muito poucos fazem bulhufas a esse massacre em via pública.
O que dizer de tudo isto? Como adjetivar os irresponsáveis que, apesar de assintomáticos, são portadores e transmissores do maldito Sars-CoV-2, assassino de 2,4 milhões de pessoas no mundo? Insanos, imbecis, abjetos, inconsequentes, criminosos, ou assassinos todos? Cuide-se: use máscara, promova o distanciamento social, higienize-se constantemente e mantenha-se vivo e aos que o circundam. Seja responsável. Os seus semelhantes dependem também de você.
(Vilson Antonio Romerto é servidor público aposentado, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa e diretor do Dieese)