Bruno Covas era moderado, na opinião de amigos e dos políticos

Bruno Covas São Paulo
Bruno Covas em foto de novembro do ano passado/Arquivo/Diário de São Paulo
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De perfil moderado e hábil articulador, o falecido prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), valorizava o papel da política e dos partidos e buscava imprimir ao PSDB um posicionamento de centro. Antibolsonarista, declarou voto nulo em 2018 para presidente, ao contrário do governador paulista, João Doria, que fez dobradinha com Jair Bolsonaro naquele ano.

VÍDEO: O adeus emocionado e comovente de Tomás Covas ao pai

O corpo do prefeito foi velado na tarde deste domingo (16) na sede da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, na região central da cidade, onde ele exercia o cargo de chefe do executivo municipal. A cerimônia foi restrita aos familiares e amigos. O enterro, também restrito à família, foi há pouco no Cemitério do Paquetá, em Santos, onde foi sepultado o corpo de Mário Covas, ex-governador de São Paulo e avô de Bruno que também morreu em decorrência de um câncer, em 2001.

Em entrevista à DW Brasil em fevereiro de 2020, Covas defendeu que o PSDB deveria ter um discurso “cada vez mais firme de parceria com o setor privado” e usar os instrumentos do governo para focar em “redução da desigualdade social”.

Na sua gestão à frente da prefeitura paulistana, Covas buscou compor com políticos da centro-direita e direita sem deixar de fazer acenos a setores progressistas. Ele também insistia na expulsão do senador Aécio Neves do PSDB, após ele ter sido flagrado em 2017 pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batsta, dono da JBS.

A prefeitura de São Paulo será assumida de forma definitiva pelo vice de Covas, Ricardo Nunes (MDB), um político pouco conhecido pela população e de perfil mais conservador, que já comandava a administração de forma interina desde o início do mês.

O corpo do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), é transportado em um carro do Corpo de Bombeiros ao deixar o prédio da Prefeitura e passar pelo Viaduto do Chá, na região central da capital, neste domingo (16) — Foto: Nelson Antoine/Estadão Conteúdo

“Ponderado” e “democrata” – O traço moderado de Covas foi destacado por diversos políticos aliados e adversários que divulgaram notas de pesar neste domingo.

Em sua manifestação, Dória afirmou que Covas era “pragmático e ponderado”. “Bruno Covas era sensível, sereno, correto, racional, pragmático e ponderado. Voz sensata, sorriso largo e bom coração. Bruno Covas era esperança. E a esperança não morre: ela segue, com fé, nas lições que ele nos ofereceu em sua vida”, disse.

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, disse que Covas era uma das lideranças mais promissoras e brilhantes da legenda e deixa “a certeza de que é possível fazer política sem ódio, fazer política falando a verdade”.

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul pelo PSDB, afirmou que Covas deixa o exemplo de “dedicação por uma política feita com respeito e equilíbrio”.

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, disse que a morte de Covas priva o país de uma “liderança jovem e capaz, um ponto de equilíbrio na crise política”.

Em mensagem em redes sociais, o ex-presidente Lula da Silva expressou sentimentos aos “familiares, amigos e correligionários de Bruno Covas, que nos deixou hoje após travar uma longa e dura batalha contra o câncer”.

A ex-presidente Dilma Rousseff também elogiou a trajetória de Covas: “O Brasil perdeu um dos seus promissores líderes políticos. Quero manifestar meus sentimentos ao filho Tomás e a toda família Covas, além dos militantes e dirigentes do PSDB.”

O ex-presidente Michel Temer afirmou: “Com ele vai embora parte da nossa esperança. Descansa em paz”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, registrou seu sentimentos aos familiares, amigos e ao filho de Covas. “Admiro a forma aguerrida como conduziu a pandemia na maior cidade do País e como fez sua campanha de eleição para a prefeitura”, disse.

Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, disse que Covas era “inteligente, cortês mesmo com quem a ele se opunha politicamente. Um democrata verdadeiro”.

Guilherme Boulos, do PSOL, que disputou o segundo turno da eleição de 2020 contra Covas, afirmou: “Lamento muito a morte do prefeito Bruno Covas. Tivemos uma convivência franca e democrática. Minha solidariedade aos seus familiares e amigos neste momento difícil. Vá em paz, Bruno!”

Neto de ex-governador – Covas se aproximou da política desde cedo por influência do seu avô, o ex-governador Mário Covas (1930-2001). Ele filiou-se ao PSDB aos 18 anos de idade e foi presidente nacional da Juventude Tucana de 2007 a 2011.

Formado em direito pela USP e em economia pela PUC, Covas venceu sua primeira eleição em 2006, para deputado estadual. Quatro anos depois, foi reeleito com a maior votação no estado naquele ano.

Ele se afastou da Assembleia Legislativa antes do final do mandato para assumir a Secretaria de Meio Ambiente do governo Geraldo Alckmin, e em 2014 elegeu-se deputados federal.

Em 2016, Covas foi eleito vice-prefeito com Doria, representando na chapa tucana os setores mais tradicionais do PSDB. Quando Doria foi eleito governador, dois anos depois, Covas assumiu a prefeitura, aos 38 anos de idade.

Ele disputou a reeleição em 2020, quando já enfrentava o câncer, e derrotou Boulos no segundo turno com 59,4% dos votos válidos.

Bruno Covas com o filho Tomás durante o festival Lollapalooza, em 2019. — Foto: Celso Tavares/G1

Evolução da doença – O câncer na cárdia foi diagnosticado em outubro de 2019, quando Covas havia se internado no Hospital Sírio-Libanês para tratar uma infecção de pele e exames localizaram os tumores, que também atingiram no início da doença os linfonodos.

Ele fez quimioterapia e radioterapia e, em novembro do ano passado, com os resultados positivos do tratamento, passou a fazer imunoterapia.

Em fevereiro e abril de 2021, porém, foram diagnosticados novos tumores no fígado, na coluna e a bacia. Em 2 de maio, ele tirou uma licença de 30 dias do cargo e se internou para realizar exames e retomar a quimioterapia e a imunoterapia.

Uma endoscopia identificou sangramento na região da cárdia e ele chegou a ficar entubado por um dia  Seu quadro de saúde permaneceu delicado nos dias seguintes, e na sexta-feira (14) os médicos informaram que seu quadro era irreversível. Ele faleceu às 8h20 deste domingo, completou a agência DW.

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