A música brasileira que reduz o papel da mulher

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Alô mulheres que tanto protestam contra o estupro coletivo no Rio de Janeiro: que tal não ouvir, cantar, comprar e não ir a shows de cantores e grupos (de funk e sertanejo universitário, em especial) cujas letras de músicas só fazem diminui-las, ofendê-las, quando não trata-las como se fossem prostitutas? E assim que se começa a ter respeito próprio, dignidade, altivez.

A observação não é minha, mas do jornalista catarinense Raul Sartori.

Há muito tempo que as letras dessas músicas vêm sendo questionadas por sua qualidade. Em 2012, por exemplo, o professor Jean Henrique Costa se debruçou sobre essa polêmica.

Numa dissertação de doutorado com o tema “Indústria Cultural e Forró Eletrônico no Rio Grande do Norte” (veja o trabalho), o professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte mexe num vespeiro comercial de grande envergadura.

Numa das partes da pesquisa, Costa analisou o conteúdo das letras dos cinco primeiros álbuns da banda Garota Safada e descobriu que 65% das músicas falam de amor, 36% de sexo e 26% de festas e bebedeiras.

O ideal de uma vida festeira, regada de uísque, caminhonete 4×4 e raparigas (mulheres) é hoje um símbolo de status e prestígio para muitos dos ouvintes.

As letras, invariavelmente, colocam no chinelo a mulher. Veja esta: “Na selva / Bem-vinda à selva / Veja ela derrubar seus joelhos / Venha, eu quero ver você sangrar.

Ou esta: Sempre escuta as bandas que eu nunca ouvi / Sempre de vestido pra sair / E quando ela sai, não importa pra onde vai / Sempre com o cartão do pai / Compra tudo e se distrai.

E o que dizer deste funk chamado “Kut kut – trava bumbum”: bum, bum, bum, joga o bum bum, trava o bum bum, treme bum bum, dançarina número rum. Somente o vídeo desta “poesia” alcançou quase 10 milhões de visualizações no YouTube.

E há o exagero do monossílabos. Sou simples. Mas eu te garanto. Eu sei fazer o lê lê lê, lê lê, lê. Se eu te pegar você vai ver. Lê, lê, lê, Lê, lê, lê,

Para Eduardo Nunomura, em texto publicado na CartaCapital, afirma que a música brasileira está decadente – san élégance. Difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido uma frase como essa. “Refine o gênero e as frase continuarão a fazer sentido para muitas pessoas. O funk, o sertanejo, o forró, o pop, todas as músicas consumidas pelas massas não prestam”.

No texto “até quando teremos que suportar letras horríveis na música brasileira?”, o site NetCina desafia: “Tente identificar uma canção nacional que esteja fazendo sucesso atualmente que tenha uma letra que não seja endereçada a alguém que sofra de um retardamento mental”.

E Rafael Teodoro, no site Bula Revista em seu artigo “O sertanejo universitário na era da imbecilidade”, arremata sobre o sertanejo universitário. Trata-se de um modelo hedônico de uma sociedade capitalista hedonista, marcadamente voltado ao consumo, onde ser um “idiota”, um “imbecil completo”, não só não é motivo de desonra — própria e familiar — como se consubstancia num status socialmente tolerado (diria mesmo instigado).

As porcarias brasileiras mais tocadas no Spotfy

01 – Bum Bum Granada – MC Zaac e Jerry

02 – O nosso santo bateu – Matheus e Kauan

03 – 10% – Maiara e Maraísa

04 – Ela só quer paz – Prójota

05 – Sosseguei – Jorge e Matheus

06 – Ou Some ou Soma – Jorge e Matheus

07 – Como é que a gente fica – Henrique e Juliano

08 – A Rosa e o beija-flor – Jorge e Matheus

09 – Na hora da raiva – Henrique e Juliano

10 – Flor e o beija-flor – Henrique e Juliano

11 – Que sorte é a nossa – Matheus e Kauan

12 – Vou voando – Jorge e Matheus

13 – Nada, nada – Henrique e Juliano

14 – Química – MC Biel

15 – Essa mina é louca – Anitta

16 – Aquele 1% – Marcos e Belutti, com Wesley Safadão

17 – Bang – Anitta

18 – Você merece cachê – Israel Novaes e Wesley Safadão

19 – Suíte 14 – Henrique e Diego, com MC Guime

 

 

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