Assuntos aparentemente distintos, o esporte e a política caminham juntos em diversos momentos da história. Às vésperas do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, é importante refletir sobre o significado dessa instigante simbiose.
Em diferentes momentos do século XX encontram-se registros dessa relação. Momentos clássicos não faltam. O marco inicial talvez esteja nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, quando o norte-americano Jesse Owens derrotou o então “imbatível” povo ariano e levou Hitler a se retirar do estádio, furioso.
O movimento em defesa dos direitos civis dos negros também marcou presença na história olímpica. Durante os Jogos da Cidade do México, em 1968, dois atletas norte-americanos, Tommie Smith e John Carlos, fizeram a saudação dos Panteras Negras ao receberem suas medalhas. Ambos foram punidos pelo gesto, mas a imagem é das mais icônicas da segunda metade do século passado – e o recado estava dado.
A Guerra Fria igualmente frequentou os estádios e arenas do planeta. Em 1980, os Estados Unidos e seus aliados boicotaram os Jogos de Moscou como forma de protesto contra a invasão soviética ao Afeganistão. Quatro anos depois, receberam o troco em Los Angeles. Nesse caso, o esporte foi o grande derrotado, pois as duas superpotências eram as principais rivais na disputa pelas medalhas.
Um ponto de inflexão deu-se nos Jogos de Munique, em 1972. Enquanto Mark Spitz brilhava nas piscinas, o então desconhecido grupo terrorista Setembro Negro invadia a residência olímpica de Israel. O saldo final foi de dezessete mortos, entre eles onze atletas israelenses. A partir de então, a questão da segurança entrou na agenda dos grandes eventos, não apenas esportivos. Em tempos de Estado Islâmico e de terrorismo disseminado pelos quatro cantos do mundo, as autoridades dedicam especial atenção ao tema no Rio de Janeiro.
Por último, o futebol é repleto de manifestações de grande caráter simbólico. Das disputas políticas entre o Real Madri do general Franco contra o Barcelona ao regime militar brasileiro pegando carona na vitória da Copa do Mundo de 1970, muito se viu nessa seara. Em termos de beleza e emoção, talvez nada se compare ao “jogo da paz”, Irã vesus Estados Unidos, na Copa da França, uma grande mensagem de compreensão e respeito para toda a humanidade.
A política estraga o esporte? Em determinados momentos sim, mas nem sempre. Em eventos de massa, com as atenções de todos voltadas para as disputas nas arenas, as manifestações de cunho político podem ganhar força. O exemplo de Nelson Mandela, que usou o rugby para unir sua África do Sul, deve orientar os corações e mentes. Que assim seja no Rio de Janeiro.