Xenófobo, autoritário, conservador, “ultranacionalista primitivo”, racista, contrário às minorias. São muitas as críticas feitas ao deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Essas críticas, que partem dos mais diversos setores da sociedade brasileira, parecem não abalar o parlamentar. Não afetam também seu crescente eleitorado. Ao contrário, os apoiadores do pré-candidato à presidência da República parecem se alimentar desses ataques para reforçar os laços com Bolsonaro.
Mas quem é Jair Bolsonaro? Nascido em Campinas (SP) em março de 1955, Jair Messias Bolsonaro é militar da reserva (chegou ao posto de capitão). Está em seu sexto mandato de deputado federal. Nas eleições de 2014, foi o candidato mais votado no Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados. Também foi vereador na cidade do Rio de Janeiro por um mandato.
Fidelidade partidária não é o forte de Bolsonaro. Na condição de deputado federal ele passou por nada menos que nove partidos. Hoje, negocia a mudança do PSC para o PEN (Partido Ecológico Nacional), para disputar a presidência. Sintomaticamente, o PEN mudará seu nome para Patriota. Muito apropriado para as pretensões do parlamentar.
Sua atuação na Câmara embasa, em larga medida, o que dizem seus adversários. Posicionamentos nacionalistas e conservadores, ataques às minorias, ofensas a colegas. Muito disso, é claro, deságua em votações contrárias à chamada “agenda progressista“. Bolsonaro, assim, é um dos alvos prediletos da esquerda, da imprensa e de setores organizados da sociedade.
Agora, o deputado busca mudar seu discurso e apresentar-se como um candidato liberal, de “mercado”, que proporá as reformas estruturais de que o Brasil precisa. Nesse quesito, seu histórico também desperta suspeitas. Fez oposição à criação do Plano Real, votou contra as quebras dos monopólios das telecomunicações e do petróleo e sempre atacou as reformas da Previdência e administrativa. Seu lado liberal, assim, é eivado de fragilidades, facilmente exploráveis pelos adversários.
Nem mesmo sua “Carta aos brasileiros” parece capaz de mudar esse quadro. Emulando Lula, que em 2002 divulgou uma carta apresentando um forte compromisso seu e do PT com a estabilidade política e econômica, Bolsonaro afirmou em texto que sua equipe será composta pelos melhores professores das universidades do Brasil e da Europa, sendo referências em suas respectivas áreas. Indo além, o deputado garantiu não compactuar com teses totalitárias. A conferir.
Recentemente, Bolsonaro demonstrou completo desconhecimento de economia durante entrevista a um programa de televisão. Isso explica sua aproximação do economista Adolfo Sachsida, que pode se tornar uma espécie de guru do parlamentar. Seria essa uma revisão da relação Collor-Zélia Cardoso de Mello, que tanto barulho causou entre 1989 e 1992?
O discurso liberal de Bolsonaro pode ser frouxo, mas seu eleitorado, por ora, demonstra empolgação com a possibilidade de votar no parlamentar para a presidência. Com cerca de 15% das intenções de voto, Bolsonaro hoje é um nome competitivo. De político voltado apenas para as questões de sua categoria (os militares), ele passou a ser uma figura de projeção nacional.
Agora, Bolsonaro sente que é chegado o momento de alçar novos voos. Sua capacidade de enfrentar uma campanha presidencial, com duros embates e debates com os demais concorrentes, começa a ser testada. O pré-candidato ainda precisa dizer a que veio.