Quando a economia do Brasil crescia, a fila de executivos alemães se candidatando a um posto em filiais de grandes empresas no país era longa. Desde o início da crise econômica, em 2014, esse panorama se inverteu: muitos deles, principalmente dos setores automotivo e de máquinas, pediram para deixar o país devido à pressão psicológica e à preocupação com a família e para que a crise não “manchasse” suas carreiras, segundo conta a DW.
Estudos da empresa InterNations refletem bem a situação: o Brasil perdeu muitas posições quando se trata de “felicidade pessoal” de expatriados. Em 2014, o país estava na 10ª colocação (de 61 países); em 2015, caiu 26 posições – para a 36ª (de 64); em 2016, subiu uma posição, para a 35ª (mas entre 67 países) e, em 2017, caiu dez posições, para a 45ª (entre 65 nações).
“Devido à péssima situação econômica no Brasil, existe uma grande pressão por parte das matrizes na Alemanha”, disse Hans J. Zeese, diretor da consultoria BoaVista Executive Consultants, à DW. “Há casos também em que as próprias matrizes substituem seus executivos no Brasil para tentar ‘dar a volta por cima’ e colocar a filial no país novamente em rota de crescimento de vendas e lucro.”
Para Frank P. Neuhaus, diretor da consultoria iManagementBrazil, muitos alemães enviados por suas matrizes para o Brasil durante o período de crescimento econômico não desenvolveram uma compreensão das rápidas mudanças que estavam ocorrendo no país. “Eles não perceberam que o boom estava chegando ao fim e, junto com ele, o potencial de suas carreiras no país.”
Ele diz que, muitas vezes, os benefícios muito generosos pagos aos expatriados são um “vidro opaco“, que impede os executivos de perceber rapidamente a dinâmica de altos e baixos do país. Além disso, muitos desses profissionais nunca vivenciaram uma crise em suas carreiras de executivos e não sabem, portanto, como lidar com ela.
“Na maioria das vezes, a reação é sempre cortar custos e demitir funcionários. Porém, isso não resolve o problema, e a pressão das matrizes sobre as filiais só aumenta”, conta Neuhaus. “Isso gera um estresse extremo nos expatriados alemães e em suas famílias. E o estresse familiar é um multiplicador para que os executivos queiram, o mais rapidamente possível, abandonar o país.”