Big Data manipula desigualdades e preconceitos

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Não é com entusiasmo que a americana Cathy O’Neil enxerga a revolução dos algoritmos, sistemas capazes de organizar uma quantidade cada vez mais impressionante de informações disponíveis na internet, o chamado Big Data.

Ela publicou o livro Weapons of Math Destruction (Armas de Destruição em Cálculos, em tradução livre, um trocadilho com a expressão “armas de destruição em massa” em inglês) e tornou-se uma das vozes mais respeitadas no país sobre os efeitos colaterais da economia do Big Data.

A obra é recheada de exemplos de modelos matemáticos atuais que ranqueiam o potencial de seres humanos como estudantes, trabalhadores, criminosos, eleitores e consumidores. Segundo a autora, por trás da aparente imparcialidade desses sistemas, escondem-se critérios nebulosos que agravam injustiças.

Ela foi entrevistada por Carlos Juliano Barros, da BBC. Veja alguns trechos do depoimento de Cathy.

“O diferencial do Big Data é a quantidade de dados disponíveis. Há uma montanha gigantesca de dados que se correlacionam e que podem ser garimpados para produzir a chamada “informação incidental”. É incidental no sentido de que uma determinada informação não é fornecida diretamente – é uma informação indireta. É por isso que as pessoas que analisam os dados do Twitter podem descobrir em qual político eu votaria. Ou descobrir se eu sou gay apenas pela análise dos posts que curto no Facebook, mesmo que eu não diga que sou gay”.

“A questão é que esse processo é cumulativo. Agora que é possível descobrir a orientação sexual de uma pessoa a partir de seu comportamento nas redes sociais, isso não vai ser “desaprendido”. Então, uma das coisas que mais me preocupam é que essas tecnologias só vão ficar melhores com o passar do tempo. Mesmo que as informações venham a ser limitadas – o que eu acho que não vai acontecer – esse acúmulo de conhecimento não vai se perder”.

“É verdade que a internet fez do mundo um lugar melhor em alguns contextos. Mas, se colocarmos numa balança os prós e os contras, o saldo é positivo? É difícil dizer. Depende de quem é a pessoa que vai responder. É evidente que há vários problemas. Só que muitos exemplos citados no meu livro, é importante ressaltar, não têm nada a ver com a internet. As prisões feitas pela polícia ou as avaliações de personalidade aplicadas em professores não têm a ver estritamente com a internet. Não há como evitar que isso seja feito, mesmo que as pessoas evitem usar a internet. Mas isso foi alimentado pela tecnologia de Big Data. Por exemplo: os testes de personalidade em entrevistas de emprego. Antes, as pessoas se candidatavam a uma vaga indo até uma determinada loja que precisava de um funcionário. Mas hoje todo mundo se candidata pela internet. É isso que gera os testes de personalidade. Existe uma quantidade tão grande de pessoas se candidatando a vagas que é necessário haver algum filtro”.

Testes de personalidade e programas que filtram currículos são alguns exemplos de como os algoritmos estão afetando o mundo do trabalho. Isso sem mencionar os algoritmos que ficam vigiando as pessoas enquanto elas trabalham, como é o caso de professores e caminhoneiros. Há um avanço da vigilância. Se as coisas continuarem indo do jeito como estão, isso vai nos transformar em robôs. Mas eu não quero pensar nisso como um fato inevitável – que os algoritmos vão transformar as pessoas em robôs ou que os robôs vão substituir o trabalho dos seres humanos. Eu não quero admitir isso. Isso é algo que podemos decidir que não vai acontecer. É uma decisão política. Essa ideia de que os robôs vão substituir o trabalho humano é muito fatalista. É preciso reagir e mostrar que essa é uma batalha política. O problema é que estamos tão intimidados pelo avanço dessas tecnologias que sentimos que não há como lutar contra”.

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