O registro de novas mortes decorrentes da infecção pelo vírus da febre amarela em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais assustaram a população neste início de ano. Em agosto do ano passado, o Ministério da Saúde havia dado como encerrado o maior surto da doença no país desde 1980.
Entre dezembro de 2016 e junho de 2017, foram confirmados 777 casos e 261 mortes por febre amarela no país. Foi o surto com o maior número de casos em humanos desde 1980.
O número de mortes em São Paulo subiu de 13 para 21 nesta sexta-feira (12), ao menos sete delas em 2018. O Rio detectou dois novos casos, um deles com óbito, e Minas Gerais confirmou nove mortes pela doença desde o fim do ano passado.
Cerca de 20 milhões de pessoas deverão ser vacinadas contra a doença a partir de fevereiro em Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, como forma de evitar a propagação do vírus em lugares que, até então, não possuíam recomendação para a vacinação.
Especialistas ouvidos pela DW Brasil dizem que o aumento de casos no verão já era esperado, pela característica sazonal da doença. Com a elevação da temperatura e dos índices pluviométricos, estão dadas as condições para que os mosquitos transmissores se reproduzam, assim como acontece com a dengue.
Num período em que muitas pessoas das grandes cidades tiram férias e viajam para regiões rurais, o risco de uma transmissão urbana não está descartado por autoridades e pesquisadores. O contágio da doença nas cidades não é observado no país desde 1942.
Coordenador de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Renato Alves diz que o governo trabalha com essa possibilidade somente no campo teórico, sem considerá-la provável.
“Embora, esporadicamente, pessoas que não estão vacinadas se exponham às áreas de mata, como nos casos observados em São Paulo, grande parte do contingente populacional urbano tem uma cobertura vacinal boa, o que oferece uma proteção maior. Além disso, todo o trabalho de controle feito nas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti se intensifica no verão. Essas situações nos dão uma segurança muito grande”, afirma.
Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), o médico epidemiologista Pedro Luiz Tauil também considera remotas as chances do que chama de “reurbanização” da doença. Entretanto, diz que os casos registrados em São Paulo nas últimas semanas acendem um alerta.
“São casos terríveis, de pessoas que estão vindo para as cidades. Nelas, o vírus pode estar ainda no sangue circulante, entre o início dos sintomas e o terceiro ou quarto dia, quando é transmissível para o [mosquito] Aedes aegypti. O mesmo vale para pessoas das áreas rurais que vêm às zonas urbanas em busca de tratamento médico. Por isso, todos devem estar vacinados”, alerta o especialista.