A camada de ozônio, que protege a Terra da radiação ultravioleta, está se recuperando nos pólos, mas está diminuindo nas zonas de menor latitude. A conclusão é de uma nova avaliação científica de uma equipe internacional de investigadores, que publicou o resultado da sua investigação na revista European Geoscienses Union Journal Amospheric Chemistry and Physics.
O Brasil é cortado ao norte pelo paralelo do Equador. o que a coloca o país entre os países afetados pela rarefação desta camada protetora.
O ozônio, uma substância que se forma na estratosfera localizada na atmosfera entre os dez e os 50 quilômetros de altitude, protege dos raios ultravioletas prejudiciais à saúde, animais e plantas.
E se, em 2014, os dados recolhidos pareciam apontar uma redução do buraco nesta camada protetora, as investigações mais recentes mostram que a concentração de ozônio não está a se recuperar nas zonas próximas do equador, justamente onde o sol é mais forte e está concentrada a maior fatia da população mundial, o que representa perigos para a saúde, nomeadamente com o aumento do risco de contrair cancro de pele, sublinha Joanna Haigh, uma das investigadoras do Instituto Grantham para as Alterações Climáticas e de Ambiente do Imperial College, de Londres.
“Apesar de o Protocolo de Montreal [um tratado de 1987 que determinou a progressiva proibição de produtos que destroem o ozônio na estratosfera, como os clorofluorcarbonetos (CFC) e os halons] ter conseguido conquistar o que pretendíamos nas zonas polares, onde a rarefação é mais expressiva, existem outros fenômenos que não compreendemos”, acrescenta Joanna Haigh.
A investigação olha para os diferentes níveis de ozônio registados nas diversas latitudes, da Escandinávia à África do Sul, durante os últimos 30 anos. Nas suas conclusões aponta que os valores existentes de ozônio nas latitudes entre o equador e os 60 graus (Norte e Sul) continuam a ser preocupantes, especialmente porque dizem respeito a zonas onde está concentrada a população mundial. O que o escondeu estes valores até agora?
Sem uma resposta “certa”, William Ball, também ele investigador, calcula que a explicação está no fato de o ozônio também poder ser gerado por atividades humanas na troposfera – abaixo dos 15 quilômetros de altitude –, o que pode ter encoberto as medições feitas por satélite durante os últimos anos.
As alterações climáticas são uma das explicações mais prováveis para este cenário, uma vez que estão a alterar o padrão de circulação atmosférica, movendo o ar dos trópicos mais rapidamente para os pólos, o que não permite a criação de ozônio.
Outra das possibilidades destacada pelos investigadores é a utilização de substâncias usadas em solventes, decapantes, desengordurantes e até em nos substitutos de determinados gases – especialmente compostos sintetizados industrialmente contendo cloro e bromo. Também a ocorrência de tempestades mais intensas, por exemplo, permite que estes compostos industriais, ainda que em pequenas concentrações, continuem a invadir as camadas de atmosfera e destruam ozono na estratosfera inferior.
Ainda assim, apesar de “preocupante”, o cenário não é alarmante, uma vez que a concentração é substancialmente inferior à produzida com a utilização de produtos químicos em aerossóis, frigoríficos e extintores, antes do Protocolo de Montreal. (Do Público)