O atentado sofrido por Jair Bolsonaro (PSL) tem impacto no processo sucessório. Trata-se de fato inquestionável, mas é necessário refletir sobre a real dimensão do fenômeno. A recente pesquisa do DataFolha nos oferece algumas pistas.
O levantamento do DataFolha ocorreu no dia 10 de setembro, após ampla divulgação, na mídia e nas redes sociais, do ataque a Bolsonaro. Ao contrário do esperado por muitos, ele apenas oscilou nas intenções de voto estimuladas, passando de 22% para 24%. Os destaques foram Ciro Gomes (PDT), que se consolidou em segundo lugar com 13% das citações, e Fernando Haddad (PT), que passou de 4% para 9%. O eleitor parece se dar conta de que o ex-paulistano será mesmo o candidato do PT.
De outro lado, Marina Silva (Rede) perdeu fôlego e caiu de 16% para 11%, enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) patina e não sai dos 9%. Desempenho pífio para sua ampla coligação.
Outro indicador importante, o índice de rejeição, também não foi muito afetado pelo evento de Juiz de Fora (MG). Bolsonaro continua com elevada rejeição, passando de 39% para 43%. Seu drama não comoveu o eleitorado. Já Ciro Gomes aparece com 20% de rejeição, o menor índice entre os candidatos mais competitivos.
Ainda sobre rejeição, um dado é bastante preocupante para Bolsonaro – nada menos que 49% das mulheres se recusam a votar nele. Esse nó junto ao público feminino parece sem solução para o candidato.
Por fim, as simulações de segundo turno igualmente pouco se alteraram. Bolsonaro perde para todos os candidatos, à exceção de Haddad, com quem empata tecnicamente (39% a 38% para o petista). Ou seja, mais uma vez o “efeito atentado” mostra-se limitado.
Outros eventos deverão impactar a sucessão nos próximos dias. O mais relevante será a troca de guarda no PT, com Haddad finalmente assumindo o lugar de Lula na chapa. O desafio para o comando petista é deixar claro ao eleitor que o ex-prefeito é o candidato de Lula. Tarefa nada trivial, ainda mais que restam poucas semanas de campanha.
Outras questões se colocarão daqui até o primeiro turno, em 7 de outubro. Algumas delas são óbvias. Os aliados de Alckmin abandonarão o tucano caso ele não reaja nas próximas pesquisas? O eleitor de Marina Silva optará por um voto alternativo (por exemplo, Ciro Gomes), desidratando ainda mais sua candidatura?
Na mesma linha, o eleitor de direita não-bolsonarista migrará para um voto útil, estimulado pelo sentimento anti-petista? E o mercado e os grandes meios de comunicação, a quem se alinharão? Tudo isso ficará claro em questão de dias.
Enfim, continuam as incertezas no horizonte. Com a entrada de Haddad no jogo, chega-se ao formato definitivo da disputa, o que atenua algumas dúvidas do eleitorado. Já o atentado de Juiz de Fora, seus efeitos se diluirão com o passar do tempo. Em outubro ele será apenas mais uma lembrança, entre outras da campanha.