O Coringa de Joaquin Phoenix

Joaquin Phoenix. Coringa
Joaquin Phoenix, o Coringa incompreendido, sugeriu a mudança no cardápio/Arquivo/Divulgação Divulgação
Compartilhe:

Já se foi Heath Ledger. Esqueçam Jack Nicholson. O monstro é Joaquin Phoenix. Coringa não é um filme sobre um vilão. É uma elegia épica. É sobre a arte de interpretar de modo ainda mais genial um personagem que deu um Oscar a Heath Ledger.

Phoenix inacreditavelmente faz o Coringa renascer das cinzas após a morte de Ledger. “Nunca mais…”, disseram eles. “Santa esquizofrenia, Batman!”, espantou-se Robin num dia perdido da década de 1970.

O comportado Adam West nunca deve ter imaginado o assombro que é o Coringa de Phoenix. Ledger superou Nicholson, que se superou (e todos, por fim, superaram o Jared Leto de Esquadrão Suicida) ao interpretar o Coringa no filme Batman de 1989. Mas nenhum deles chegou nem sequer perto de Joaquin Phoenix.

Esqueçam o Batman sofrível de Ben Affleck, que praticamente inviabilizou a torcida pelo herói. Para completar, eis que Joaquin Phoenix se torna esquálido para caber em Arthur Fleck, o nome do cidadão que a cada golpe da vida vai se tornando mais Coringa e menos Arthur.

É um homem perturbado, pisado, humilhado. Sofreu maus tratos severos na infância. A mãe a quem se devotava era uma mulher mentalmente doente e má. E dentro dele surge, finalmente, o Coringa, majestoso ao descer escadarias num plano de contre-plongée.

Triunfante, flutuante como Fred Astaire, patético como Charles Chaplin, desengonçado como o coelho Pernalonga.

Enquanto via essa já antológica cena da escadaria, pensava: “Nasce uma estrela”. Estava ali, de cabelos verdes, após dores incontáveis e fracassos, o anti-herói furioso e perverso sobre quem desabaram os males do mundo. Um looser que ninguém queria, um Zé Ninguém que encontrou seu modo de existir menos ordinariamente na selva de Gotham City.

Não é um psicopata. É um justiceiro incompreendido que levita enquanto elimina os maus e inspira a mais completa desordem em outros zés ninguéns como ele, que instaura o caos em Gotham.

Coringa é uma estrela incompreendida. A magistral interpretação de Joaquin Phoenix assusta e enternece. Encanta e inverte a lógica tradicional dos papéis regulares criados pela DC em torno do Batman.

Coringa não é um ativista político. Ele é, ao contrário, politicamente incorreto e também mais complexo que isso. É um homem que tenta, à exaustão, ser trivial e se encaixar na sociedade. Tenta ser engraçado. Tenta fazer o que se espera dele. Mas o mundo é uma selva, e Arthur Fleck  é engolido pela vida real da qual tentou escapar.

Seus delírios se tornam a única realidade possível e Fleck se rende. Nasce, então, o Coringa. Vou ver de novo. Há muito, muito tempo não via algo parecido. And the Oscar goes to…

Informativo Misto Brasil

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo gratuito no seu e-mail, todas as semanas

Assuntos Relacionados

DF e Entorno

Informativo Misto Brasil

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo gratuito no seu e-mail, todas as semanas