Um tratado pela humanidade no roteiro cruel de “Adú”

Filme Adú
O personagem Adú é o retrato da tragédia humana em torno da pobreza e da imigração/Divulgação
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Adú” é um daqueles filmes que você não pode deixar de ver, principalmente se tiver um olhar “mais humano sobre a humanidade”. A produção passeia pela miséria africana e o drama de refugiados que tentam chegar à Europa através da Espanha. No Estreito de Gibraltar, no mar Mediterrâneo, há um muro na cidade de Melila que divide o território espanhol do marroquino.

O encadeamento é feito a partir do garotinho Adú, de seis anos, interpretado por Moustapha Oumarou. Não entramos nos aspectos da técnica e da edição do filme dirigido por Salvador Calvo e escrito por Alejandro Hernández. A produção é de 2020, portanto, extremamente atual e, certamente, comovente.

Em certo momento, Adú parece um “Jó”, do Antigo Testamento, com seus sofrimentos bíblicos. Após passar por sofrimentos inacreditáveis, Jó que era um homem rico, perde tudo. Deus, no entanto, recompôs sua dignidade, sua família, após provar fidelidade.

No caso de Adú, não há religião nem religiosidade, mas a dura realidade de um mundo cruel que opera contra os desvalidos e miseráveis. O garotinho mora em palafita, perde a mãe e a irmã. Viaja por países miseráveis apoiado num adolescente que foge da perseguição. Reúne trocados vendendo o corpo. A cumplicidade é comovente. Fica provado que nem línguas estrangeiras impedem gestos de amor.

O filme aponta para várias direções que obrigam a reflexões. Uma filha drogada, desligada da realidade e fútil. Um pai que defende os elefantes que são explorados por aldeões que ganham miséria pelo marfim. A ONU do faz-de-conta. A exploração sexual infantil e o retrato de países pobres, miseráveis e a violência policial, a mídia perversa e as ONGs oportunistas.

A dose é pesada. Força o telespectador a entender que o mundo é muito mais profundo do que as redes sociais, as fofocas de personalidades ou apenas o meu ou o seu mundo.

Adú não tem um final feliz – talvez tenha – mas contra as crianças tudo conspira contra. O filme ensina que mais de 70 milhões de africanos estão na condição de imigrantes, mais da metade são crianças.

Em tempo: “Adú” pode ser visto pela Netflix.

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