A Covid, o Fundeb e a crise geracional

Escola volta às aulas Misto Brasília
Estados e municípios são obrigados a investir um percentual mínimo na educação/Arquivo/Agência Brasil
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Texto de Josiara Diniz

São tantas as crises geradas pela pandemia atual que é difícil criar uma ordem de priorização. Ao mesmo tempo que temos uma herança, triste e irrecuperável de mortes, temos também milhares de postos de trabalho perdidos, empresas sem saber como fechar a conta e dezenas de milhares de famílias sem saber como vão recuperar sua renda.

Todavia, volto hoje a análise para a educação. Em meio ao debate sobre a aprovação do novo Fundeb, qual o percentual de complementação da união nos fundos estaduais/municipais e quanto será preciso para evitar o colapso educacional, fica a difícil tarefa de pensar o futuro da educação sem entender o quão complicado é o presente.

O financiamento da educação é basilar, é sabido. Contudo, enquanto tivermos planos de abertura para bares e academia e não para a educação ficará difícil ter só dinheiro e não ter um plano. Não que o lazer e os cuidados com a saúde não sejam importantes, inclusive são essenciais. Entretanto, tivemos em todo globo, 1 bilhão de alunos (sendo 40 milhões de crianças) sem aula até meados de julho e não havia planos claros e estratégicos de como estancaríamos essa, conforme o atual secretário-geral da ONU,  “catástrofe geracional”.

A inclusão, via educação, é a chave para diminuir desigualdades, aumentar o progresso (não só tecnológico, mas também humano) e elevar o potencial humano. A juventude, embora não seja exatamente o grupo de risco da Covid-19, tem perdido, e perderá, muito nos próximos anos. Não esqueçamos que, segundo nota técnica do Ipea, a juventude perdeu 14% da renda proveniente do trabalho entre 2014 e 2019 (antes da pandemia). Cabe ainda salientar que esse percentual chegou a 24%, entre os mais pobres, e 51%, entre os analfabetos. Soma-se a isso a desigualdade de gênero onde, segundo outro estudo do Ipea, os grupos com maiores chances de perder a renda na crise são mulheres e jovens (20%). Soma-se também a desigualdade racial, pois a proporção de pretos e pardos que perdem o emprego encontra-se acima da média e chega a alcançar 18%.

Existe uma urgência na prestação de serviços essenciais, e outros nem tão essenciais assim, não seria educação a redução de riscos mais importante para o “pós-crise”? No meio de decretos, liminares, governadores versus juízes decidindo se as escolas “voltam ou não”, já paramos para definir, com estratégia, o “como voltaremos”? O silêncio do Ministério da Educação diz muito (sobre o Fundeb e sobre a pandemia).

Um ano (ou mais, a depender da vacina) sem educação pode gerar décadas, ou até uma geração inteira, de perdas.

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Referências: Ipea. Mercado de Trabalho: conjuntura e análise. v.1. Brasília. 2020.

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