Tabuleiro político prepara as eleições presidenciais de 2022

Palácio do Planalto Misto Brasília
O Palácio do Planalto é a sede do governo federal/Arquivo/Divulgação
Compartilhe:

Faltando pouco menos de dois anos para as eleições presidenciais, a disputa no Congresso dá indício de como vão se comportar as bancadas na construção das diferentes candidaturas que serão apresentadas. Para o cientista político Leonardo Barbosa, duas candidaturas já estão colocadas até o momento: a reeleição de Bolsonaro e o Partido dos Trabalhadores.

No dia 1º de fevereiro, o Congresso Nacional elegeu os cargos de comando de suas duas Casas Legislativas. Na Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira (PP-AL) venceu a disputa pela presidência com 302 votos contra 145 de seu adversário, Baleia Rossi (MDB-SP).

No Senado Federal a disputa envolveu, na reta final, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS), e o senador por Minas Gerais superou sua adversária em um único turno de votação, por 57 a 21.

Em ambos os casos, os vencedores tiveram apoio do Palácio do Planalto, de parlamentares do centrão, e também contaram com as divisões internas em diversos partidos. No caso da Câmara, uma reviravolta no DEM, o partido do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia, fez com que a legenda abandonasse o apoio a Baleia Rossi (MDB), que era defendido por Maia, e optasse pela neutralidade. Outros partidos, como PSL e PSDB, também se mostraram divididos, o que facilitou o caminho para a vitória de Lira.

No Senado, Pacheco também contou com o apoio de alguns partidos de oposição, como PT e PDT, que rejeitavam Simone Tebet por sua proximidade com o campo da Lava Jato, e teve o ex-presidente da Câmara Alta, Davi Alcolumbre (DEM-AP), como seu principal cabo eleitoral.

A eleição de Lira é bem vista pelo Palácio do Planalto, já que foram notórios os momentos de crise entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro nos últimos dois anos. Agora o Planalto acredita que terá um aliado na elaboração da pauta, que poderá levar adiante diversos projetos ignorados por Maia. Além disso, Bolsonaro, por ora, mantém distante a possibilidade de impeachment.

Em entrevistas à Sputnik Brasil, os cientistas políticos Theófilo Rodrigues e Leonardo Martins Barbosa concordam que a posição do presidente Bolsonaro está fortalecida no Congresso com as vitórias de Lira e Pacheco. O pesquisador ressalta que “Bolsonaro abriu mais espaço para os partidos do centrão em seu gabinete ministerial, […] o que permite que o governo consiga aprovar matérias de seu interesse no Legislativo com maior facilidade”.

Leonardo Barbosa, que é pesquisador do Observatório do Legislativo Brasileiro, acredita que, apesar de a aliança com o centrão oferecer ao governo “uma posição muito mais consolidada em comparação ao período de Rodrigo Maia, ele passa a ter seus interesses mais atrelados a esses parlamentares, que têm necessidades de gastos e de investimentos públicos para manter as suas bases eleitorais”.

Lula da Silva e Jair Bolsonaro

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que integra o maior partido de oposição na Câmara, também comentou sobre a aliança que levou o centrão para dentro do governo. Na opinião do deputado, ela altera também o nível de independência do Legislativo, “que passa a ter um alinhamento maior, e um controle maior por parte do Bolsonaro sobre a pauta e sobre quaisquer iniciativas que tenham por objetivo ampliar a capacidade de fiscalização sobre as ações do governo e sobre atos que eventualmente possam envolver o próprio presidente da República”.

O deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), um dos apoiadores mais fiéis do presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, disse à Sputnik Brasil que as vitórias do governo no Legislativo foram “muito importantes para o Brasil, porque agora nós temos dois presidentes que sabem do seu lugar, que não tentam usurpar a competência do Executivo e têm interesse em fazer o Brasil avançar com as pautas importantes”, dentre as quais ele cita as reformas administrativa e tributária e as pautas de costumes.

Sobre a particularidade evolvendo a disputa no Senado, na qual o PT apoiou o mesmo candidato de Bolsonaro, os cientistas políticos ouvidos pela Sputnik Brasil afirmam que o fator Lava Jato foi decisivo, já que Tebet representava os apoiadores da operação na casa. Para Teófilo Rodrigues, essa opção “não agradava nem um pouco aos partidos da esquerda do espectro político”.

Leonardo Barbosa assinala que o apoio do Partido dos Trabalhadores a Pacheco “faz todo o sentido, pois o senador do DEM faz parte dessa coalizão política majoritária que quer enfraquecer o que significou o ativismo judicial na política, representado pela Lava Jato nos últimos anos e do qual o PT foi um dos grandes atingidos”.

Os cientistas políticos apontam que é inegável que a estratégia da oposição de tentar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro perde muita força com a eleição de Arthur Lira na Câmara, já que cabe ao presidente da Casa colocar ou não o pedido em votação.

Apesar disso, Theófilo Rodrigues acredita que “não dá para dizer que seja impossível que ele ocorra. É improvável, mas não impossível”, enquanto Leonardo Barbosa destaca que os novos presidentes da Câmara e do Senado foram eleitos “para evitar o impeachment e fortalecer uma candidatura de reeleição do Bolsonaro”.

Informativo Misto Brasil

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo gratuito no seu e-mail, todas as semanas

Assuntos Relacionados

DF e Entorno

Informativo Misto Brasil

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo gratuito no seu e-mail, todas as semanas