Pensando a terceira via

Palácio do Planalto sede do governo federal Misto Brasília
Fachada principal do Palácio do Planalto, sede do governo federal/Arquivo/Divulgação
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Para começar, é inegável o fato de que os nomes postos à mesa e também os partidos políticos do bloco, não representam uma coesão

Texto de André César

Muitos nomes, nenhum projeto concreto. Objeto de infindáveis e acalorados debates, a chamada “terceira via” enfrenta desafios de monta e está longe de se materializar. A polarização Bolsonaro-Lula se consolida e, hoje, a entrada de um nome alternativo no jogo sucessório parece pouco provável.

Nos próximos parágrafos, exploraremos cenários hipotéticos para os próximos passos da disputa presidencial de 2022.

Para começar, é inegável o fato de que os nomes postos à mesa da terceira via, e também os partidos políticos integrantes do bloco, não representam um todo coeso. Ao contrário, divergências programáticas e ideológicas, além dos egos, impedem de saída um entendimento mínimo. Não se deve esperar que, por exemplo, o neopedetista Ciro Gomes reze na mesma cartilha do tucano João Dória – e nenhum dos dois terá afinidade absoluta com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Muito pelo contrário.

Assim, não surpreende a desistência de pré-candidatos apontados como fortes no âmbito da terceira via. Luciano Huck, Sérgio Moro, João Amoêdo, todos entenderam que o projeto em curso tem poucas chances de obter êxito. Por sinal, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sinalizou recentemente, em debate, que também pode desistir da disputa prévia. O pragmatismo dos envolvidos fala mais alto.

Para os setores contrários à volta do PT ao poder, setores esses que vão além do bolsonarismo, a situação pode mudar de figura a partir da constatação de que o ex-presidente Lula talvez seja absolutamente favorito apenas contra o atual titular do Planalto. Sem Bolsonaro na disputa, o quadro pode ter uma configuração distinta.

Em decorrência disso a tese do impeachment, que timidamente retorna no mundo político, pode ganhar novo impulso. Sem Bolsonaro, as forças tradicionais da direita e da centro-direita, e também do centro, podem buscar um nome alternativo, mais moderado e palatável (inclusive para os mercados). A terceira via, no caso, se transformaria em segunda via, com possibilidade real de vitória.

Nesse caso, um sinal de alerta se acenderia no petismo. Lula seria obrigado a revisar o atual discurso, talvez buscando reforçar seu apoio junto às bases históricas da esquerda.

Caminhamos para o final de junho e, em tese, existe tempo hábil para mudanças radicais no jogo sucessório. A verdade é que nada está definido e, dada a instabilidade do quadro geral, tudo pode ocorrer.

Esse texto foi pensado para contribuir com a ampliação do debate atual.

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