Entenda o que muda com o projeto da demarcação de terras indígenas

Mulher indígena
Encontro vai preparar uma marcha de mulheres indígenas/Arquivo/BrasildeFato
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O PL 490 prevê a revisão do usufruto exclusivo das terras pelos indígenas, previsto na Constituição

Após horas de discussão, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (23) o polêmico projeto de lei (PL) 490/2007, que muda as regras sobre a demarcação de terras indígenas e dificulta o processo.

Numa sessão marcada por vários desentendimentos entre oposição e governistas, o texto-base da proposta foi aprovado com 40 votos a favor ao parecer de relator, deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), e 21 contrários.

A votação dos chamados destaques, ou seja, sugestões de alteração ao texto, deverá ocorrer nesta quinta. Finalizada essa etapa, a proposta seguirá para o plenário da Câmara e, se aprovado, para o do Senado.

O PL 490 prevê a revisão do usufruto exclusivo das terras pelos indígenas, previsto na Constituição. Além disso, o projeto propõe a criação de um “marco temporal”, exigindo a presença física dos indígenas nos territórios demarcados em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

O projeto determina ainda que o processo de demarcação de terras indígenas tenha obrigatoriamente a participação dos estados e municípios em que se localize a área analisada e de todas as comunidades diretamente envolvidas.

O texto também proíbe a ampliação de terras já demarcadas e considera nulas as demarcações que não atendam às regras estabelecidas no projeto. Já os processos que estiverem em andamento, deverão seguir as novas regras.

A proposta permite ainda a retomada de áreas de reservas destinadas aos povos indígenas, “em razão da alteração dos traços culturais da comunidade ou por outros fatores ocasionados pelo decurso do tempo”.

O projeto também abre espaço para a exploração, em terras indígenas, de atividades econômicas, como as que são ligadas ao agronegócio e ao turismo. Se o PL for aprovado, o governo poderá, por exemplo, construir estradas e centrais hidroelétricas nesses territórios, sem necessidade de consultar os povos nativos da região.

Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o projeto de lei afronta decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e a Convenção 169, da OIT e, se aprovado, “inviabilizará a demarcação de terras indígenas e permitirá atividades como o agronegócio, mineração e construção de hidrelétricas em terras indígenas demarcadas”.

“O Projeto de Lei é uma bandeira de Jair Bolsonaro e da bancada que diz representar o agronegócio. Se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas e escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e grandes hidroelétricas. A proposta é inconstitucional”, afirmou a ONG Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) em comunicado. (Da DW)

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