General da reserva Braga Netto e a ex-ministra Tereza Cristina podem ser escolhidos para a vaga
A princípio, o vice-presidente da República pode não ter grandes atribuições, mas o cargo vem ganhando cada vez mais visibilidade no Brasil. Enquanto a chapa do ex-presidente Lula da Silva já tem o nome do ex-governador Geraldo Alckmin definido desde abril, o presidente Jair Bolsonaro (PL) indica que protelará a escolha do seu vice para as eleições de 2022.
Após ter o general Hamilton Mourão como segundo na linha sucessória há quatro anos, Bolsonaro busca novo nome para tentar a reeleição, em outubro. Até o momento, o presidente acena para dois setores que deram sustentação à sua candidatura no último pleito: os militares e o agronegócio, nas figuras do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto e da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, respectivamente.
“No limite… Quanto mais tarde melhor. Porque essa pessoa que, a princípio, deve ser a vice está também se adaptando… Porque se eu falo que é o ‘João’, você hoje vai para cima do ‘João’ e pode ser que ele não esteja preparado para responder as perguntas que vocês merecem”, despistou Bolsonaro em entrevista a repórteres no Palácio do Planalto, conforme noticiou o jornal Extra, na última segunda-feira (13).
O professor de ciência política José Paulo Martins Júnior, da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que Braga Netto está mais alinhado ao histórico político de Bolsonaro. Para o especialista, com o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, o presidente teria “não uma garantia, mas maior tranquilidade” em eventuais conspirações do legislativo contra seu mandato, devido à proximidade de classe, de acordo com uma entrevista concedida à Agência Sputnik.
Tereza Cristina (PP) é deputada federal desde 2015 e conta com prestígio no bloco do “Centrão”, no Congresso Nacional, que dá sustentação ao governo.
“Sem duvida é o militar o campo que ele transita melhor, haja visto os milhares de militares em cargos de confiança. Um pouco diferente da Tereza Cristina, que certamente não é alguém que Bolsonaro tinha relação antes. Ela comandou um ministério importante, fez uma boa figura, diferente de outros ministros. Manteve-se no governo desde o início, fiel a Bolsonaro, mas é política. Isso pode preocupar o presidente”, ressaltou Martins Júnior.
O cientista político Danilo Bragança, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em Defesa, não acredita que o presidente fará movimentos em busca de ampliação de sua base. Segundo ele, além de “mal assessorado”, Bolsonaro já avalia que possui “base extensa o suficiente”.
Para o especialista, por mais que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, dê suporte a Bolsonaro, “quem sustenta o governo na prática são as Forças Armadas”, representada, em sua ala mais radical, por Braga Netto.
Para ele, Tereza Cristina seria uma escolha “mais racional”, devido à maior aceitação junto ao mercado e a outros setores da economia, representando uma “moderação” na campanha.
“Mas não acho que o momento agora seja o da moderação. Não sei se essa é a vontade da base eleitoral mais fiel, que vai até reclamar, que ela não é da base bolsonarista e que o presidente estaria se vendendo para o Centrão, e isso, na prática, pode ser mais um tiro no pé”, ponderou.