Hidrogênio ou bateria?

Carro movido a hidrogênio Misto Brasília
Carro em teste movido a hidrogênio, sistema reduz a poluição/Arquivo/Divulgação
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Pesquisa feita na Alemanha coloca em dúvida as expectativas para o uso de hidrogênio no setor automotivo

Por Charles Machado – SC

Os três países que promovem o corredor do hidrogénio verde solicitarão a Bruxelas um financiamento até 50% do seu custo. O objetivo é que esteja operacional até 2030 e transporte 10% do consumo europeu de hidrogénio.

A construção de um corredor de hidrogênio, ligando Espanha, França Portugal e que deve ficar pronto até 2030, deve ser responsável pelo transporte de cerca de 10% do consumo europeu, uma obra vital em tempos de crise energética, ao mesmo tempo uma obra que da a dimensão de que soluções em energia precisam em muitos casos (como no Europeu) serem transnacionais, reforçando as metas de descarbonização.



Mas qual será o papel do hidrogênio verde, ele deverá ser o combustível de automóveis? Ele vai substituir as baterias hoje existentes por células de combustível? Uma recente pesquisa publicada na Nature pelo Instituto Fraunhofer da Alemanha, pode estar colocando em dúvida as expectativas para o uso de hidrogênio no setor automotivo, mostrando que a janela de oportunidade para esses veículos, tanto em carros quanto em caminhões, já fechou há muito tempo, e agora, simplesmente, eles não fazem mais sentido do ponto de vista energético em comparação com as baterias.

De acordo com o instituto alemão, os carros elétricos à base de hidrogênio poderiam fazer algum sentido na época em que as baterias só eram capazes de oferecer autonomia de cerca de 150 quilômetros no máximo e seus tempos de carregamento eram estimados em várias horas, uma fase já completamente superada do ponto de vista tecnológico.

Na época, a densidade energética do hidrogênio comprimido, juntamente com a possibilidade de encher um tanque em uma operação que levava apenas alguns minutos, parecia ser uma ótima solução, nesse universo de redesenho das fontes de energia e da logística construída em torno delas.



Porém, nesse momento em que veículos com baterias já oferecem autonomia em torno de 400 quilômetros reais e tempos de carregamento de cerca de quinze minutos, o que torna o hidrogênio, uma opção não competitiva, especialmente considerando também os custos de implantação e a complexidade da sua rede de carregamento e elevado pode de explosão.

Além da diminuta frota de veículos movidos a hidrogênio, par efeitos de comparação, no momento existem no mundo cerca de 25 mil carros movidos a células de hidrogênio circulando no mundo, apenas dois modelos de duas marcas (Toyota Mirai e Hyundai Nexo), que possuem cerca de 540 estações de serviço de hidrogênio em todo o mundo, para efeitos de comparação.



Carro elétrico abastecimento Misto Brasília
Novas baterias podem ajudar os carros elétricos a ter maior autonomia/Arquivo/Divulgação

Veículos elétricos e o custo benefício

Existe no mundo mais de 15 milhões de veículos elétricos com baterias, com mais de 350 modelos oferecidos por praticamente todos os fabricantes, que são carregados na maioria das vezes em suas casas, mas que também têm à sua disposição uma rede de 1,3 milhão de pontos de carregamento públicos.

Muitos são os analistas que consideram o transporte rodoviário pesado como um bom caso de uso para o hidrogênio, a realidade é que a grande maioria dos trinta mil caminhões elétricos em uso hoje são baseados em baterias e estão principalmente na China, e já são anunciados mais de 150 modelos de diferentes marcas. Em contraste, os à base de hidrogênio são meramente experimentais e com expectativas de produção por volta de 2027.



A razão é clara: com as baterias atuais, obter um alcance próximo de 500 quilômetros começa a ser viável, e os motoristas desses caminhões, em muitos lugares, como na Europa são obrigados a parar e descansar 45 minutos a cada 4,5 horas ao volante.

O que sobrou de hidrogênio? Sem dúvida, muitos usos possíveis: desde o transporte de cargas muito pesadas em locais localizados longe de estações de carregadores rápidos, até, é claro, usos como a aviação, navegação pesada ou ferrovias. Além do transporte, além disso, o hidrogênio é configurado como uma das melhores opções para armazenamento de energia e para usos industriais, desde que seja é claro, hidrogênio verde e não outros ofertados pela indústria petrolífera.

As mudanças climáticas, aliadas ao elevado valor do petróleo e a dependência que temos dele ainda como combustíveis para carros, embarcações e aeronaves vem funcionando como catalisadores na transformação energética, fazendo com que as ruas sejam a cada dia mais ocupadas com veículos híbridos ou 100% elétricos, essa aceleração ocorre de maneira distinta entre os diversos países, pois sempre que uma nova tecnologia precisa de escala é fundamental uma política jurídica de incentivos.



Lembro que nesse momento, 97,7% dos carros produzidos no Brasil podem ser abastecidos com álcool ou gasolina, puros ou misturados em qualquer proporção.

Seu uso sustentável e a possibilidade de escala mundial ainda maior, já exigiriam com que o nosso governo se preocupasse mais com a geração de cluster energéticos sustentáveis, ao invés de mover sua base pra discutir a importância ou não de incluirmos uma impressora junto as urnas digitais, em uma total perda de tempo, esforço e oportunidades.



O etanol é uma alternativa a favor do ambiente

O etanol em comparação à gasolina, proporciona uma redução de 90% nas emissões dos gases causadores do efeito estufa. Em relação ao diesel S10, com baixo índice de particulados, a diminuição é de 50%.

A estratégia para convencer países que hoje criam legislações que favorecem a eletrificação dos carros também passa pelos dados de emissões de CO2 e de poluentes, e logo é fundamental que esses conjuntos normativos incluam também os veículos movidos a etanol.



A Nissan, recentemente, renovou um convênio com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) ligado à USP, com a ideia de extrair do etanol o hidrogênio necessário para a célula a combustível dos seus carros.

Isso seria fantástico para o Brasil, pois a ideia do projeto é que o carro pare no posto, se abastece de etanol e dele se extrai o hidrogênio que vai alimentar a Fuel Cell que gera a energia elétrica para movimentar o carro, algo para ser pensado nesse novo debate em que muitos ângulos dele precisam ser discutidos.

Assim, o Brasil terá seu automóvel elétrico sem limite de autonomia, pois é “recarregado” pelo etanol que se encontra em qualquer posto do país.


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