Faz sentido o Plano B que os governistas adotaram, deixar a CPI ser instalada e indicar nomes de peso
Por André César – SP
O governo poderá sofrer um significativo revés muito em breve. Patrocinada pela oposição bolsonarista, a CPI Mista dos Atos Antidemocráticos tem reais chances de ser instalada nos próximos dias. Caso isso se confirme, será um obstáculo nada desprezível para o avanço da agenda no Planalto no Legislativo.
O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), agendou para a quarta-feira (26), a sessão plenária conjunta das duas Casas na qual deverá ser lido o requerimento de instalação da CPI. Até lá, o governo tem o desafio de convencer parlamentares a retirar assinaturas e, assim, inviabilizar o movimento. Até aqui, porém, as lideranças aliadas pouco avançaram.
Assim, faz sentido o Plano B que os governistas adotaram, deixar a CPI ser instalada e indicar nomes de parlamentares de peso para compor o colegiado. No Senado Federal, por exemplo, Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), que se destacaram na CPI da Covid, deverão integrar o colegiado. Na Câmara dos Deputados igualmente lideranças experientes marcarão presença. Jogo pesado.
Interessante observar que a CPI Mista dos Atos Antidemocráticos, além de colocar em risco a agenda governista, em especial as propostas de reforma tributária e do novo arcabouço fiscal, servirá de palanque para a ultradireita mais radical. O Planalto certamente monitora esse quadro e, mais que tudo, precisará trabalhar com inteligência para barrar novos arroubos golpistas. Conseguirá?
A recente crise envolvendo o então comandante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general G Dias, que apareceu em imagens do 8 de janeiro auxiliando manifestantes dentro do Palácio do Planalto, será utilizada para alimentar a CPI. Os bolsonaristas adotarão o discurso de que a participação do militar seria prova de que o presidente Lula estaria por trás dos atos. Zona de perigo para o governo.
Outra questão problemática envolvendo a CPI diz respeito à presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em eventual depoimento ao colegiado. Um confronto entre as partes seria praticamente inevitável, e apenas o Planalto sairia perdendo.
Décadas atrás, Carlos Drummond de Andrade publicou o poema “Pedra no meio do caminho”, que se tornou um clássico imediato. Hoje, a CPI Mista dos Atos Antidemocráticos pode ser considerada a pedra no meio do caminho do governo. Um desafio de monta para uma base ainda pouco sólida.