A conta dá sinais que pode chegar antes, e isso pode representar o que alguns chamam do “fim da pedalada climática’
Por Charles Machado – SC
As condições climáticas extremas, parecem ter o efeito de despertar não apenas debates acalorados, mas também posições extremadas, ainda que parte delas desprezem os dados científicos, afinal para negacionistas os dados por vezes são apenas uma referência utilitarista de acordo com a vontade e a conveniência.
Extremistas não usam dados para investigação, para o estudo para um ponto de partida, mas apenas para suas conveniências nem sempre republicanas.
Chuvas, secas, calor extremo, tornados, tudo junto e misturado, colocam a agenda climática no centro do debate, e claro acelera a necessidade de planos para redução do aquecimento global.
A onerosidade inicial das medidas, que muitos tentam evitar, transformam o amanhã dos nossos filhos e netos nada alvissareiro. Uma parte significativa dos que negam os efeitos do aquecimento global, não estará aqui pra pagar a conta.
A conta dá sinais que pode chegar antes, e isso pode representar o que alguns chamam do “fim da pedalada climática’.
No último dia 20, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou em Nova York, a correção da meta brasileira de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.
O gesto está longe de elevar a ambição do compromisso do Brasil com a Convenção das Nações Unidas para a Mudança do Clima, firmado em 2015. O importante é que ele sepulta algumas manobras feitas pelo governo brasileiro nos últimos anos, que procuravam diminuir a contribuição brasileira ao combate ao aquecimento global.
Além é claro de na velha cantiga “negar os efeitos do aquecimento climático”, completada pela pusilanimidade de não admitir o malfeito. Não por acaso, a tramoia tornou-se conhecida como “pedalada climática”.
Medidas ambientais e política fiscal ambiental
Com a justificativa de que o custo da implantação das medidas ambientais, retiram a competitividade dos nossos produtos e serviços, em abril de 2022, o governo reajustou a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) do Brasil, no âmbito do Acordo de Paris.
Empurrou o nosso compromisso mais pra frente, no momento em que os percentuais originais de redução das emissões, que antes aumentariam para 37% até 2025 e em 43% no fim da década. A equação, porém, trazia como base para os cortes um inventário defasado das emissões em 2005. O resultado foi a vexatória diminuição das obrigações do País.
Esses percentuais foram no ato da ministra corrigidos, e o Brasil deverá oficializar na ONU a redução de 48% em 2025 e de 53% em 2030.
A reforma tributária, que tramita velozmente no Congresso, e que deve ser aprovada ainda no mês de novembro, deve evidenciar o papel da importância de uma política fiscal ambientalmente sustentável. E mais do que isso: privilegie a produção de produtos e serviços engajados com o combate ao aquecimento global.
A aprovação legislativa de um mercado brasileiro de carbono, como uma regulamentação inicial, interessa em muito aos negócios brasileiro, e o próprio agro tende a ganhar em estar dentro do mercado regulado pela imagem internacional, que injustamente é questionado lá fora por conta de uma minoria. A parcela do agro que estaria acima desse teto é muito pequena.
E ao estar dentro do mercado de carbono (regulado), tem mais chance de gerar créditos de forma mais fácil do que no mercado voluntário, como ocorre hoje, é preciso estabelecer uma política verdadeira e não apenas atos isolados, o Brasil certamente é um dos países que mais tem a ganhar com a implantação de ações que priorizem a agenda de combate ao aquecimento global.
Os eventos de desastres climáticos já são rotina, uma rotina que não passa despercebida para os estudiosos das mudanças, é a “Terra” mandando aviso.
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, China, Líbia, pode escolher o pais continente ou localidade, os acidentes climáticos aumentaram a sua frequência.
A maior evidência, está no calor recorde desta época, que ajuda a explicar a intensidade e a persistência das inundações, dizem os cientistas, um fenômeno que os modelos climáticos há muito previram que ocorreria com o aumento das temperaturas.
A Terra mais quente
Em cada caso, os fatores que levaram às catástrofes variaram: um padrão meteorológico estagnado permitiu que tempestades estacionassem sobre Espanha, Grécia, Turquia e Bulgária. No sul da China, a cauda do tufão Haikui colidiu com as monções. Na Líbia, até 40 centímetros de chuva em paisagens desérticas sobrecarregaram reservatórios e represas.
Porém reside no notável calor do planeta, especialmente dos oceanos, alguns dos quais vários graus mais quentes do que o normal, serve de base para todas as inundações.
Pode ser muito cedo para saber até que ponto o aquecimento global, causado pelo uso de combustíveis fósseis pelos seres humanos, contribuiu para qualquer dilúvio. Mas os cientistas afirmam que não há dúvida de que a água mais quente é mais propensa à evaporação e que o ar mais quente pode transportar mais vapor de água, fatores que podem produzir chuvas e tempestades mais intensas.
As temperaturas médias globais, tanto em terra quanto no mar, estão se aproximando das mais quentes já registradas na Terra, e até estabeleçam um novo recorde, superando 201, cerca de 80% da umidade que alimenta as tempestades vem dos oceanos e de outras grandes massas de água, e a cada grau de aquecimento, o ar pode reter cerca de 4% mais vapor de água.
Os alertas deixam cicatrizes visíveis até à luz do dia, mas fazemos de conta que não vemos ou não sentimos as consequências e que, por isso, não existem, pois os fenômenos não estão no nosso bairro, na nossa rua ou na nossa casa, e assim buscamos culpados, seja na imprensa especializada ou no pobre “El Niño” o nosso mordomo da ocasião.
Essa cegueira tem na agenda de muitos, diversas causas em tempos onde se reproduz de tudo nas redes sociais, não se preocupando com a qualidade ou com a verdade. E claro que não falta também é o amesquinhamento de pequenos propósitos empresariais que olham apenas pro umbigo, e somente para o dia de hoje, como se não tivesse amanha.
Para registro, desde a Revolução Industrial já aumentamos em quase 60% a concentração de gás carbônico na atmosfera pela ação dos combustíveis fósseis, petróleo, carvão, lignina e gás natural, e também pelos incêndios florestais, na substituição de florestas por pastagem ou produtos agrícolas. Soma-se a isso a contaminação da água consumida principalmente nas grandes cidades.
Você pode escolher o desastre climático ao seu gosto, e também pode tal qual avestruz tentar nada ver, mas não vai fugir do inevitável que caminha a passos largos.