Ele deseja ser o condutor de uma ampla aliança, que vá do governo (PT) à oposição bolsonarista mais extremada (PL).
Por André César – DF
Era inevitável. Apesar de estarmos ainda a oito meses da definição da nova Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, os principais atores envolvidos no processo aceleram seus movimentos. A sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Casa teve início muito antecipado.
Com plena ciência de que precisa deter as rédeas da situação, o próprio Lira tem agido de maneira até certo ponto ousada entre seus pares. É do conhecimento geral que ele deseja ver em seu lugar alguém a quem tenha ascendência. Nesse caso, ele começa a testar nomes de seu entorno. Mas não só.
De um lado, o alagoano adotou uma medida inédita para a discussão em torno da regulamentação da reforma tributária. Ao criar dois grupos de trabalho para tocar os projetos enviados há pouco pelo Planalto e estabelecer um prazo rígido para a conclusão das ações, ele tenta controlar a tramitação das propostas.
Mais ainda, os nomes encaminhados pelos partidos (um de cada legenda, em um total de 14 parlamentares) são, de algum modo, ligados ao presidente da Casa. O resultado final certamente terá a digital de Lira. A que preço, só o governo poderá dizer.
Além disso, é notório que, há tempos, Lira vem centralizando a distribuição das emendas parlamentares de comissão, algo em torno de R$ 15 bilhões somente em 2024. Como se diz em Brasília, o presidente da Casa não quer ver seu “café esfriar” tão cedo e, por conta disso, joga pesado.
Do lado do governo Lula da Silva (PT), há muita cautela. A história ensina que, ao confrontar uma candidatura em tese contrária aos interesses do PT, o presidente da República pode sair enfraquecido.
A então titular do Planalto Dilma Rousseff (PT) começou a perder o cargo ao bater de frente com o à época todo-poderoso Eduardo Cunha na eleição para a presidência da Câmara. Deu no que deu.
Por ora, sobram nomes para a sucessão de Lira. Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Altineu Côrtes (PL-RJ), entre outros menos cotados, estão no radar, e outros postulantes devem surgir nos próximos meses. Cabe observar que não há petistas, ao menos nesse momento, na disputa.
Voltando a Lira, ele deseja ser o condutor de uma ampla aliança, que vá do governo (PT) à oposição bolsonarista mais extremada (PL). Uma jogada ousada e repleta de riscos. Arthur Lira faz suas apostas e paga para ver.