Anatomia de um debate – ou pugilato eleitoral

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Datena segue até Pablo Marçal ensaiando um pugilato no debate/Reprodução TV Gazeta

A campanha lembra os antigos programas televisivos de estilo “mundo cão”. Em São Paulo, candidatos quase brigaram a socos

Por André César – SP

O horror, o horror”. Expressão clichê que serve para sintetizar o que se viu na noite de domingo, 1 de setembro.

O debate entre os candidatos ao governo da capital paulista realizado ontem foi único. Único para o pior. Jamais se viu, na história política brasileira, tão baixo nível e tamanha troca de ofensas entre postulantes a um cargo público. Um autêntico freak show eleitoral.

Em linhas gerais, os cinco candidatos carregaram nas tintas dos xingamentos e acusações de ligação do crime organizado entre os adversários. O protagonista, mais uma vez, foi o “ex-coach” Pablo Marçal (PRTB), que, em determinado momento, quase chegou à vias de fato com o apresentador neotucano José Luiz Datena – esse último desceu do púlpito para “encarar” o concorrente. A campanha lembra os antigos programas televisivos de estilo “mundo cão”.

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Ainda no quesito baixo nível, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vê sua candidatura à reeleição perder força, foi chamado por Marçal de “amante de Bolsonaro”. A resposta imediata, “o senhor é tchutchuca” do PCC, apenas reforçou a percepção de despreparo de todos os participantes.

Igualmente o psolista Guilherme Boulos trocou farpas, dessa vez com Nunes. Em uma pergunta sobre mobilidade, esse último chamou o deputado federal de “invasor” e teve como resposta que o atual prefeito seria “ladrãozinho de creche”, em referência a um suposto esquema de desvio de verbas em unidades de ensino da capital investigado pela Polícia Federal.

Nem mesmo as regras do debate, que em tese conteriam ânimos mais exaltados, foram capazes de esfriar o ambiente. Pelo contrário, a situação ficou tão tensa que seguranças chegaram a ser acionados para o estúdio. A sucessão paulistana flerta com o esgoto.

Segundo observadores presentes nos bastidores do evento, em diferentes momentos a impressão que se tinha era a de que os adversários se atracariam de fato. Algo impensável em tempos não tão remotos.

Em suma, todos perdem – a cidade de São Paulo, o eleitor, a política e, no limite, a sempre frágil democracia. Dados os fatos, é inevitável que a opinião pública aumente sua descrença quanto ao universo de seus representantes. Algo precisa mudar, com urgência.

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