Brasil: gastronomia e poder

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Presidente Juscelino Kubitscheck durante recepção no Palácio da Alvorada/Arquivo Nacional
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A passagem dos presidentes pelo Palácio da Alvorada também marcou a gastronomia desde a construção de Brasília

Por André César – DF

Em maio de 2021, o crítico gastronômico Marcos Nogueira publicou artigo na revista Piauí no qual comentava o livro “Como alimentar um ditador”, do polonês Witold Szablowski.

Na obra, não editada no Brasil, o autor conta algumas histórias saborosas, e outras nem tanto, envolvendo personagens como o nefasto Saddam Hussein, o sinistro Idi Amin Dada e o albanês Enver Hoxha. Biscoito fino.

Desde então, burilei a ideia de fazer algo semelhante (e reduzido em tamanho) com o Brasil como foco, mostrando a relação entre presidentes com a (boa) comida.

Dado que chegamos ao final de um ano difícil, por vezes triste, chegou a hora de apresentar um texto leve para os nobres leitores.

De imediato, o primeiro nome que vem à cabeça é o do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Homem de hábitos fartos e simples, ele apreciava a culinária mineira, com muito feijão tropeiro e pernil, além de um bom pastel de carne.

Cabe ressaltar que, sobre JK, ele contou com o suporte, por um período, do chef Rosental, lendária figura da cena brasiliense. Seu icônico restaurante, localizado na Vila Planalto até sua morte, tinha no cardápio javali e sarapatel para serem apreciados de joelhos.

Dando um salto no tempo, José Sarney, é claro, tem predileção pela cozinha maranhense. Vatapás, caranguejos e inclusive duas receitas que levam seu nome, o “Creme Dr. Sarney” e o “Camarão que o José gosta”. Ah, sem esquecer o prosaico copo de leite que ele toma sempre antes de dormir.

Já Fernando Henrique Cardoso sempre foi apaixonado pelo “Picadinho do presidente”, receita preparada pela chef Roberta Sudbrack, que chegou a trabalhar no Alvorada.

Lula da Silva, por seu turno, é fã de rabada com angu e do sorvete de tapioca com açaí, sobremesa que o titular do Planalto, em seus dois primeiros mandatos, fazia questão de oferecer a todos os políticos estrangeiros.

O prato preferido de Dilma Rousseff era o famoso bife a cavalo, tradicional combinação de arroz, feijão, bife e um ovo frito.

Nisso Dilma e Michel Temer combinam, pois ele também gosta de uma comida muito simples: arroz, feijão, batata frita, bife e ovo. Nada de sofisticação exagerada.

Por fim, Jair Bolsonaro sempre vendeu a imagem populista de uma figura comum, com hábitos nada sofisticados. Seu pão com leite condensado ganhou notoriedade, bem como as imagens dele comendo na rua. Boa parte do eleitorado gosta disso.

Gastronomia e poder combinam. Pratos apreciados pelos presidentes podem representar um retrato de época.

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