Acessibilidade vai além da rampa

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Projeto sobre acessibilidade durante apresentação para alunos no Distrito Federal/Arquivo
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Cerca de 18 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência — seja física, visual, auditiva, intelectual ou múltipla

Por Isadora Lira – DF

O termo “acessibilidade” é frequentemente ligado ao uso de rampas em prédios e calçadas, mas esse ponto de vista estreito ignora a complexidade de incluir pessoas com deficiências nos diversos aspectos da existência social, educacional e profissional.

No Brasil, e apesar dos avanços significativos da legislação e do aumento da discussão sobre o tema, milhões de cidadãos ainda enfrentam barreiras invisíveis que privam e limitam seu direito de existir com autonomia e dignidade.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 18 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência — seja física, visual, auditiva, intelectual ou múltipla. Esses cidadãos encontram obstáculos em setores essenciais como educação, saúde, transporte e, especialmente, no mercado de trabalho.

Com desafios que vão muito além da locomoção, o acesso limitado à cultura, saúde e informação compromete significativamente a autonomia e a participação plena desses indivíduos na sociedade.

A taxa de emprego para pessoas com deficiência é de apenas 26,6% em comparação com 60,7% da população em geral. Essa desigualdade começa na escola: apenas 7% das pessoas com deficiência completaram o ensino superior, enquanto mais de 63,3% das pessoas com deficiência não completaram o ensino fundamental.

Empresas muitas vezes cumprem a Lei de Cotas (Lei 8.213/1991) apenas de forma simbólica, não demonstrando comprometimento ao oferecer condições de inclusão como comunicação acessível, ambientes adaptados e respeito pela diversidade funcional dos funcionários.

Nos serviços públicos, a falta de intérpretes de Libras, legendas, materiais acessíveis, até mesmo do reconhecimento da comunicação alternativa é a norma. No cotidiano, isso isola, silencia e exclui.

No atendimento à saúde, essa negligência pode ser fatal. Isso indica que os desafios enfrentados não decorrem apenas de limitações físicas, mas têm origem predominantemente na falha da sociedade em estar equipada para acolher a diversidade humana.

Essa realidade é retratada com sensibilidade em obras cinematográficas que ajudam a despertar empatia e reconsiderar estigmas. Por exemplo, no filme “Dança das Cadeiras”, a história gira em torno da personagem Mia, uma dançarina que sofre um acidente e encontra uma nova forma de expressão artística.

“Uma Lição de Amor” retrata as lutas de Sam, um pai com deficiência intelectual, para manter a custódia de sua filha, expondo preconceitos que existem no sistema judiciário e na sociedade. No cinema nacional, “Colegas” é um exemplo emocionante e divertido de protagonismo real: três jovens com síndrome de Down embarcam em uma aventura inspiradora, provando que seus sonhos não têm limites.

Essas produções emocionam, mas também ensinam. Elas revelam que a deficiência não determina o valor de uma pessoa, mas sim a percepção social que se tem da pessoa com deficiência. É preciso quebrar barreiras não apenas arquitetônicas, mas também culturais e simbólicas.

A acessibilidade é diálogo, compaixão e estrutura. É um direito e pertencimento. Vai além da rampa; começa com o reconhecimento do direito de compreender e ser compreendido, de ver o outro como um sujeito completo.

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