Desde o lançamento da série, em 30 de abril, até a última sexta-feira (16), a ONG recebeu seis vezes mais consultas de pessoas sumidas
Por Misto Brasil – DF
A série O Eternauta se tornou a ficção de língua não inglesa mais assistida da Netflix desafiando as fronteiras com a realidade. Baseado em uma famosa história em quadrinhos argentina, de 1957, a produção também veio para tentar “consertar” algumas coisas no mundo real.
“A série nos deu a oportunidade de falar sobre a história da família Oesterheld, de Hector [autor do quadrinho original de 1957], de suas quatro filhas desaparecidas e dos dois netos ou netas que procuramos, já que duas delas estavam grávidas quando foram sequestradas”, explicou à DW Manuel Gonçalves Granada, secretário das Avós da Praça de Maio.
A organização não governamental é dedicada a localizar e devolver às suas famílias crianças desaparecidas durante a última ditadura argentina (1976-1983).
Segundo Granada, desde o lançamento da série, em 30 de abril, até a última sexta-feira (16), a ONG recebeu seis vezes mais consultas de pessoas com dúvidas sobre a própria identidade, na comparação com mesmo período do ano passado.
O número de pessoas que entraram em contato para fornecer informações sobre possíveis casos triplicou nesse intervalo.
A série acompanha a trajetória de Juan Salvo (Ricardo Darín), que, após uma nevasca tóxica produzir um cenário distópico em Buenos Aires, se torna viajante do tempo e do espaço em busca de sua família. Não é um relato histórico, mas um episódio na vida do autor aproximaria ficção da realidade: vinte anos após a publicação do quadrinho, ele teve destino semelhante ao dos personagens que concebeu.
“Há um espectador que está assistindo a uma série de ficção científica, mas por trás dela existe uma história familiar muito difícil e, embora a série não conte isso explicitamente, ele pode acabar descobrindo depois de assistir à série e descobrir quem é o autor e o que aconteceu com sua família durante a ditadura”, afirma Granada.
O fenômeno contribuiu para o sucesso da série dirigida por Bruno Stagnaro, que alcançou o primeiro lugar entre as atrações da Netflix mais assistidas em vários países da América Latina e da Europa.
“Produções como essa nos permitem amplificar a mensagem“, argumenta Giselle Tepper, representante da organização de direitos humanos H.I.J.O.S (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio).
“Não somos só nós, as organizações de direitos humanos e as famílias, que estamos procurando. Quem assistiu à série também está procurando, quem soube, por meio desta história, que o autor está desaparecido há quase 50 anos”, disse em entrevista à DW.