A agenda internacional ganhou ainda mais importância para Lula da Silva, que quer deixar um grande legado
Por Thomas Milz- RJ
“Presidente Macron, abra o seu coração para o Brasil, e vamos fazer o acordo União Europeia-Mercosul, para que a gente possa aproveitar essa oportunidade.”
Foi com essas palavras que o presidente do Brasil, Lula da Silva (PT), apelou ao seu homólogo francês durante viagem a Paris.
“O acordo é a melhor resposta que nossas regiões podem dar diante do cenário de incertezas criado pelo retorno do unilateralismo e protecionismo tarifário”, disse.
Para Lula, seria muito importante aprovar o acordo agora, enquanto o Brasil ainda está na presidência rotativa do Mercosul, avalia Guilherme Casarões, cientista político da Fundação Getúlio Vargas. O petista esperava que a viagem pudesse ajudar nesse processo.
“Aprovar o acordo seria um ponto alto no seu terceiro mandato como presidente do Brasil.”
Em conversa com a DW, Casarões aponta que, num contexto de baixa popularidade do governo, a agenda internacional ganhou ainda mais importância para Lula da Silva, que quer deixar um grande legado em seu terceiro mandato.
Mas o presidente francês Emmanuel Macron ainda demonstra muita dúvida em relação ao acordo da maneira como está hoje, e quer algumas garantias adicionais.
“Existe uma competição entre a França e o Brasil na área da agropecuária. A França é um grande produtor de laticínios e de carne“, lembra Casarões. E como o lobby do agronegócio francês é forte, Macron teme desagradar o setor.
Outros países da Europa também têm ressalvas com o agronegócio sul-americano, como a Irlanda.
Lula da Silva tem feito um esforço louvável para defender o acordo, mas não parece que ele tenha conseguido algum avanço, avalia o ex-ministro e ex-embaixador Rubens Ricupero.
Segundo o diplomata, Macron não tem nada a ganhar com o tratado, por causa da resistência dos fazendeiros franceses. “Não vejo nenhum governo francês que vá arriscar o prestígio com um acordo deste tipo”.
Para Ricupero, o atual texto do acordo nem merece mais o nome de livre-comércio, já que não fez concessões expressivas aos produtos agrícolas da América do Sul.
E a posição de Macron foi fortalecida com a eleição recente de um presidente conservador na Polônia que é contrário ao acordo. “Vejo o futuro do acordo como duvidoso”, resume Ricupero.
Outro entrave adicional ao acordo é o fato de a UE estar negociando ao mesmo tempo com a Austrália. Essas tratativas têm sido marcadas pelos mesmos problemas, como cotas para o comércio de carne.
(Thomas Milz trabalha na Agência DW)